terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Zé, José, Zezinho, Pepe..., o que tu queiras.

Zé, José, Zezinho, Pepe..., o que tu queiras.
Estou a ler uma coisa que diz assim: “Fé? Tenho fé em mim. Acho que as pessoas precisam de um Deus, ou de algo que não conheçam, para viverem, para se desculparem, para pedirem, para acusarem, para se revoltarem. Eu não acredito que Deus existe. Acredito que cada um de nós é Deus, ou pode ser Deus”. Eu, por mim, quando vejo alguém que pode ser Deus, consumido por uma tristeza profunda, preocupa-me. Melhor: (sejamos honestos) deixa-me triste também…o maldito egoísmo, não me larga nem um minuto.
A tua cara ontem, não era tua, era doutro alguém. Não estavas presente: a tua ausência consubstanciava-se no ar e o buraco de tristeza que subsistia era denso e duro.
As nossas amigas dizem que é paixão. Espero que sim. Tenho quase a certeza. Parecia-me ouvir o barulho da dor a doer, o peito a querer estalar e a fazer brechas da cabeça aos pés, a falta de concentração, que nos leva a dar a volta ao mundo para não ouvirmos nada nem ninguém. Ainda por cima, noite de lua cheia, tão grande, tão aqui perto de nós, porque não conseguimos embarcar e ficar lá uns tempos, de preferência on the dark side of the moon…ou já lá estamos…?
Para qualquer pessoa, a ida à lua reveste-se da maior estupidez possível, mas eu não concordo e a resposta não tem a ver com a distância a que está a lua, não, tem a ver com o facto da paixão ser terrena e estar bem aqui na Terra. Por muito que tudo doa, que nada faça sentido, que a distância exista, o que conta é que o motivo pelo qual se nos rasga o peito, se apaga o pensamento, se queda e perde o olhar, está aqui e não na lua. Porque se estivesse em Marte, nós, transformados em Deuses, iríamos até ao planeta vermelho, azul ou verde, ao encontro da paixão, da dor, da alucinação, em busca de perto, em busca do olhar, alimento supremo que faz sobreviver o querer, deixando-nos alucinados, como uma doce intoxicação; o olhar, que fala como só ele, transmite, comunica, ama, desespera, dá, diz o que queremos sentir como nenhum conjunto de palavras o consegue fazer. O traidor do olhar. Peca por nós, sem mexermos um músculo. É o olhar que faz de nós Deuses. É o olhar que faz dos outros Deuses, ao nosso olhar.
A paixão é o melhor estado da existência, embora nos deixe mudos, quedos, sem brilho, como zombies, quais autómatos que precisam de um empurrão para andarem. Estamos na ignorância da reciprocidade. Mas quando nos apercebemos que ela existe… a lua fica ao alcance da mão, um golpe de magia abate-se sobre nós e o olhar brilha como estrelas cintilantes, a boca abre-se e fala, o olhar ri. Transformamo-nos em Deus. Somos capazes de tudo.
No entanto, ninguém é capaz de negar como é bom sentirmos a paixão, embora pareça que um comboio nos passa perpetuamente por cima. Aqui, comanda a esperança que nos diz em silêncio para mantermos a espera pela retribuição. Quando acontecer, tudo terá valido a pena e o nosso olhar vai dar sonoras gargalhadas. A magia existe. Só temos que acreditar
No entretanto, é bom chorar: deita-se fora o cristal da paixão que nos consome e rói, que se quer prender aos olhos: deixemo-los verter o cristalino do nosso interior, até não haver mais nada. Vamos chegar à conclusão que existe sempre mais qualquer coisa. Chorar e gritar e esgrimir contendas interiores de forma expansiva é saudável e sabe a bolinhos quentes de canela.
Aos Deuses tudo é permitido.
Camila

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