Uma viagem a Tenerife tão barata!?
É uma promoção, garante a senhora da agência de viagens, acrescentando que quem comprar um bilhete, leva outro por 50% do valor do primeiro…
Ouço mentalmente alguém dizer-me que o barato sai caro, finjo que afasto uma madeixa de cabelo pondo o pensamento de lado e mesmo assim, ainda pergunto:
- E o hotel, é bom?
Uma fotografia tirada num lindo dia de sol, tira-me as dúvidas. Vamos a isto, quanto é? Muito bem…vamos embora!
Segunda feira, dois de Setembro… a que horas é o avião? Dez e meia da noite? Lá se vai um dia inteiro… mas tudo bem, não faz mal…
Chegámos ao aeroporto a horas de podermos escolher os lugares no avião, o que quer dizer que cumprimos com as formalidades das duas horas. Beijos e abraços aos familiares que nos foram levar, muito obrigado e até para a semana.
Como que por magia, assim que nos deixam sozinhos, uma mensagem nas televisões do aeroporto anuncia o atraso do ‘nosso’ avião. Estávamos quase no dia seguinte quando levantámos voo… e eram duas da manhã quando aterrámos em Tenerife…
Esfomeados e estremunhados de malas na mão, lá avistámos a senhora cúmplice da agência de viagens que nos indica o número do autocarro que nos vai levar ao hotel; fumam-se os últimos cigarritos, entramos e lá vamos.
O guia era brasileiro e anuncia que não vai entrar em explicações dado o avançado da hora e por ser de noite, não veríamos nada lá fora. Ok, agora também ninguém está com vontade de ouvir seja o que for...
Sentados no autocarro e já sem sono, abrimos o mapa da ilha e constatamos que o nosso hotel fica no lado oposto ao local onde está o aeroporto. Bem, ficar na mesma ilha, já foi sorte…
- Desculpe lá, quanto tempo demoramos ainda até ao nosso hotel?
- Duas horas, talvez menos, responde o sotaque brasileiro…
O aeroporto Rainha Sofia fica no sul da ilha e o hotel era em Puerto de la Cruz.
Os bocejos sucediam-se, os suspiros ouviam-se na ilha inteira, as vistas deviam ser lindas, mas a noite não deixava ver nada, e só nos conseguíamos rir, ajudados pelo bufar incessante dum dos passageiros, rapaz novo, mas verdadeiramente incomodado...
Quatro da manhã: chegámos ao hotel e fomos recebidos pelo recepcionista estremunhado. Arrastámos as malas no elevador e pelo corredor, tentando não fazer muito barulho, embora a hora do pequeno almoço se aproximasse...
Dormimos as horas suficientes para nos restabelecermos - convém acrescentar que tínhamos viajado trezentos quilómetros antes de ir para o aeroporto - e saímos do quarto com uma fome de leão.
- Onde fica a sala do pequeno almoço, por favor?
- Este hotel não tem sala de refeições. Façam o favor de subir pelo jardim, descer uma pequena alameda, passar por cima duma ponte e, em frente, já noutro hotel, fica a sala de refeições...
O homem ia dizendo tudo isto e na minha cabeça formava-se uma expressão, como um fantasma que me falasse devagar e pausadamente de umas quaisquer profundezas: ... 50% de desconto…
Bem, não foi difícil encontrar a sala e lá comemos como um exército.
De seguida, impunha-se um passeio para conhecer Puerto de la Cruz e, claro, a praia. Começamos a descer, a descer, a descer e quando pensámos que estávamos no fundo, ainda descemos mais, o que nos levou a questionar se o hotel não ficaria no céu; mas não, não ficava no céu pois quando subíamos, parecia uma subida aos infernos, de tal forma a subida era inclinada. Esta questão acabou por ser resolvida com o aluguer dum carro, mas o fantasminha não desistia:
- ... 50% de promoção...
Mas nós também não desistíamos!
No final do primeiro dia, ao fim da tarde e antes do jantar resolvemos dar um mergulho na piscina, pois a praia de Puerto de La Cruz não era bem uma praia, de acordo com a nossa noção de praia. Subimos de elevador para vestir os fatos de banho e... damos atenção a um papelinho pendurado no espelho onde se anunciava que a piscina do hotel estava avariada! Porém, podíamos usar a piscina do 10º andar, bem como a do hotel que usávamos para comer. Tudo bem, vamos à do 10º andar que deve ser coberta. Vestimo-nos e subimos para dar de caras com a piscina coberta, sim senhor, e dedicada a nudistas! Ora, eu não tenho nada contra os nudistas mas têm eles contra mim, que não gostam de ter gente aperaltada de fato de banho, quando estão num espaço que lhes foi reservado de pleno direito para passearem e molharem abertamente as partes que eu escondo.
Bem, lá descemos deixando as pessoas nuas em paz e sossego e fomos procurar a piscina do hotel vizinho e novamente, como se fosse uma gravação, eu ouvia a voz que dizia:
- ...o barato sai caro…
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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