Olá Pedro
Desculpe a ousadia, mas não costumo encontrar pessoas que pensem como eu acerca de viagens: toda a gente gosta de viajar mas, contas feitas, são turistas, viajantes há poucos. Pareceu-me que o Pedro se inclui nesta segunda categoria e, para além dos pormenores sobre os quais falámos, gostava de lhe dizer para não esquecer uma outra coisa: um par de binóculos. Para quê? Duas coisas simples e grandiosas.
A primeira para, ainda no avião, melhor ver a terra vermelha da Argélia, cujos tons são, quase únicos e dão vontade de saltar pela janela, para mergulhar naquele mar deserto que, quando o contemplamos com os olhos de Deus, como se costuma dizer, parece que podemos fazer coisas impossíveis, que tudo está ao alcance da nossa mão: dentro de nós nasce uma energia que não a sabíamos acumulada, nem percebemos bem qual é a sua origem.
A segunda para, se efectivamente for ao deserto, e puder contemplar aquele cenário único a perder de vista, usar os binóculos e poder ter a noção que, muito para lá de onde a sua vista alcança…ele continua e continua e continua. E mesmo assim, na imensidão do nada e do tudo, do calor aterrador, há quem ali nasça, cresça e morra. Há quem ali viva vidas inteiras a ouvir o barulho do sol a subir no horizonte, a aguardar repetida e aliviadamente que ele se ponha, para voltar a subir no dia seguinte.
Apesar de tudo, duma coisa tenho a certeza: vão recebê-lo com um sorriso fresco!
Dois momentos maravilhosos porque, à semelhança, de quase tudo o que existe parado, parecendo que está sempre à nossa disposição, na verdade, está tudo em movimento, mas para o apreendermos temos que ver com o coração e não apenas com os olhos.
A primeira vez que estive no deserto do Saara, choveu.
As pessoas gritavam de alegria, largaram o que estavam a fazer, abraçavam-se e abraçaram-nos. Houve, inclusivamente, um sujeito que nos agradeceu pois, acreditou que tínhamos levado a água. Disseram-nos que seríamos abençoados para sempre, pois a chuva é rara e abençoa e purifica quem a apanha.
E ali estava eu a gritar também, como se tivesse sido treinada geneticamente, e aguardasse aquele momento desde sempre: a minha respiração em consonância com a deles, os meus saltos sincronizados com os deles, a alegria deles transformada em minha alegria. Naquele momento, eu era uma deles.
Claro que este momento vive na minha galeria de momentos especiais para o resto da vida.
Fui feliz no deserto, tão feliz que guardo essa felicidade sólida para sempre e uso-a de vez em quando em momentos menos bons.
Divirta-se muito e apaixone-se pelo deserto. Vai ver que será uma paixão para o resto da vida.
Camila Ribeiro
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
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