segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Madrid, 24 de Junho de 2006

Meu caro Dr. José Carlos Figueira

Foi uma agradável surpresa encontrar a sua pessoa em terras de nuestros hermanos. Porém, da nossa discussão, ficaram algumas palavras por dizer que, ainda daqui lhe envio, colando-lhe selos espanhóis, pois sei da sua queda para a filatelia.
Diz-me então que sociabilidade e talento não fazem bom casamento…
Por vezes, a felicidade da junção ou da conjunção ou da partilha ou do acompanhamento, está no conjunto da diferença, ou seja, quando se associam dois factores que, à partida, nada têm a ver um com o outro.
Percebo a sua ideia mas nem sempre comungo com ela. Vejamos porquê.
Ser sociável é dar. Ter talento é ser.
Só não dou o que não consigo. Logo, sou sociável. Segundo a máxima, consequentemente, desperdiço talento. Este devia ser dado selectivamente. Melhor, nem devia ser dado, devia ser apreendido por quem o consiga agarrar no ar. E por quem o entendesse. E por quem o valorizasse. E, essencialmente, por quem não o transformasse em desperdício.
O acto de ser sociável inferioriza o talento, no seu sentido inato, tornando-o vulgar e criando uma falsa perspectiva de fácil acessibilidade.
Porém, quando o dar e o ser estão intimamente ligados, a acção imediata, comportamental é, inevitavelmente, em primeiro lugar, de dádiva. Por vezes fazem-se sermões aos peixes…
Paciência.

Subscrevo-me com renovados cumprimentos
Camila Ribeiro

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