Releio a 'Biblioteca à Noite'. De noite. De dia estou na Biblioteca.
Hoje tive que me desviar duma história dos descobrimentos e de qualquer coisa sobre a globalização, caso contrário, teria ali ficado retida. E esquecida. Esquecida do resto.
A minha própria biblioteca tem a minha idade, crescemos juntas e nunca nos abandonámos.
Lembro-me duma ocasião em que houve um incêndio de grandes proporções perto da nossa casa. Foram momentos inesquecíveis e horríveis: os moradores molhavam os terrenos à volta dos prédios para darem vagar ao fogo, tiraram os carros das garagens e foram pô-los nem sei bem onde; quem os tinha acomodou galinhas e outros bichos que ali viviam; os bombeiros sentiam-se impotentes perante chamas que lambiam a ponta dos pinheiros da altura dos prédios; das janelas jorravam mangueiras com água para encharcar as vizinhanças das casas; lembro-me de muitos gritos e lágrimas e sempre achei que aquilo era a visualização do desespero. Entre o fogo e as casas ficava só a linha do comboio; ouvimos dizer que quando o incêndio chegasse aos carris, estes não resistiriam e não tardariam a deixar-se consumir. Alguém disse que quando isso acontecesse teríamos que pensar em sair de casa, dada a proximidade.
Eu era miúda e perguntei a uma prima que vivia connosco o que levava ela se tivéssemos que ir embora. Não me lembro da resposta, mas sei que ficou meia avariada com a minha própria resposta: os meus livros. Perguntou-me aos gritos e a chorar como podia eu pensar em livros no meio duma tragédia daquelas. A bem da verdade, uma verdade nunca confessada, eu não conseguia pensar em mais nada...
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
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