terça-feira, 29 de março de 2016

Preciso de mimo

Quem conhece a relação que tenho com a minha irmã sabe que o afastamento dela é coisa de causar dor, profunda. No final do ano lectivo muda-se ela de armas, bagagens, filhos e marido para Barcelona.
Assim que conto a novidade seja a quem for, a reacção é unânime sobre a minha sorte em poder ir a Barcelona sempre que queira e em como - de certeza, mas de certeza absoluta - passarei a ir lá imensas vezes.
Se por um lado eu não tenho situação económica que me permita ir mais longe que ao Barreiro, quanto mais a Barcelona, por outro, ainda não ouvi ou senti uma palavra sobre a minha tristeza em distanciar-me daqueles que amo profundamente.
Estou feliz, muito feliz por eles, note-se: desde logo a família ficará junta, sem as constantes viagens do meu cunhado, agora no Brasil, depois no Vietname, a seguir nos EUA, depois na África do Sul, entre muitos outros. Desde Janeiro até hoje já viajou para onze países diferentes e o facto de ficar mais sossegado irá trazer-lhe uma tranquilidade maior; os meus sobrinhos vão poder ter oportunidades que aqui não têm, aprendem outras línguas falando-as, conhecem novas pessoas, etc.
Para todos será uma nova vida que, tenho a certeza, lhes será favorável e benéfica, individualmente e como família.
Permito-me pois ter um 'ataque' de egoísmo e pensar em mim... a minha habitual solidão cresce e solidifica-se.
Bem sei que os que me dizem que Barcelona é tão perto e que agora há viagens tão baratas, falam por bem, querendo animar-me, mas a verdade é que não costumam marcar viagens e não sabem que os preços anunciados nunca são os reais e que, na verdade, não é assim tão perto. Se fosse, muitos de nós passávamos a vida a ir lá e não vamos. Porquê, se é tão perto e tão barato? O meu próprio director já me concedeu dias extra para quando eu lá for!
É bom constatar esta sintonia, em perfeita descoordenação com a minha situação económica.
Não é bom constatar que não há uma voz que se dê a ouvir em prol da minha tristeza.
Por motivos vários a vida tem-me levado por caminhos onde não passa vivalma, mas como andava de mão dada com a minha irmã e com os meus sobrinhos, sabia que não havia o perigo de passar a estrada sozinha; agora, que me dizem adeus de longe, sinto-me minguar e antevejo tempo vazio a precisar de ser preenchido. Vejo-me a planear a viagem e a desmarcá-la, como acabou de acontecer com uma estadia Erasmus que, embora tenha bolsa, mas já foi tempo de poder suportar as despesas várias que se acumulam em qualquer deslocação.
Há dias em que acordo e afasto o pensamento do início do Verão, eu que sempre o desejei ansiosamente. Há dias em que acordo e me ponho a arranjar estratagemas de defesa para quando lhes telefonar me mostrar contente e ocupada, como se nem sequer pensasse neles. Há dias em que acordo e quero acreditar que foi só um sonho, que está tudo normal. Mas não está.