quinta-feira, 29 de março de 2012

Mensagem para um taxista

Senhor taxista que fez hoje o percurso das Janelas Verdes até ao Marquês de Pombal
Apanhei o seu táxi com duas colegas hoje, antes do almoço, à porta do Museu Nacional de Arte Antiga. Lembra-se?
Vínhamos muito bem dispostas, a rir e a conversar, a falar de viagens e de tempos livres.
Paguei, desejei-lhe um bom dia e, de adianto, também um bom fim-de-semana.
Acontece que deixei uma coisa importante no seu carro e preciso falar-lhe.
Pode entrar em contacto comigo?
Obrigada, fico a aguardar.

terça-feira, 27 de março de 2012

Tratados e Pazes

Decididamente eu andava com algumas ideias... sobre o quê? Pois, não sei...
Este texto está escrito numa folha com linhas (que já não uso), a lápis e já meio esbatido.

Diz-se que antigamente o emissário duma notícia desconhecia o seu teor até a mesma ser lida pelo destinatário: se continuasse vivo era sinal que a notícia era boa, caso contrário esperava-o a morte.
As Relações Internacionais mudaram radicalmente ao longo dos séculos e hoje os emissários são diplomatas aceites até em países cujos relacionamentos são instáveis, por força da procura de equilíbrios que, não sendo alcançados, podem levar a conflitos diplomáticos que, à sua maneira, também são uma guerra.
Se as Relações Internacionais visam o estudo dos relacionamentos políticos, económicos e sociais entre países, os fenómenos religiosos não estão menos ligados a toda esta dinâmica, quer na actualidade ou na Antiguidade: a um convidado muçulmano só será servida carne de porco se o quisermos afrontar, não se pede a um judeu para trabalhar ao sábado, respeita-se o Domingo como dia santo a um católico.
As Missões Diplomáticas permanentes em países estrangeiros foram uma necessidade recorrente da Paz de Vestefália, nome que se conceituou dar a um conjunto de tratados e documentos legais que fizeram nascer o chamado Sistema Internacional e respeitar princípios como a soberania estatal ou o Estado nação.
Cansados duma lista de conflitos generalizados, com todos os aspectos negativos e prejudicais que englobavam, procurou-se um Equilíbrio de Poder, objectivo que se veio alcançando ao longo dos séculos com a Paz de Vestefália, em 1648, o Congresso de Viena, em 1815, e com o Tratado de Versalhes em 1919, momentos triangulares da busca duma paz duradoura.
Assim, embora os relacionamentos entre estados, nações, províncias, reinos, impérios, regiões, ou mais formas que se queiram acrescentar, existam desde a existência do Homem, considera-se que o nascimento das Relações Internacionais, como são encaradas hoje, nasceu com a Paz de Vestefália.
Actualmente fala-se muito em conflitos diplomáticos para designar a desagradabilidade de um país relativamente a outro(s) mas sem que entrem em conflito armado, ou seja, são desentendimentos que se espera vir a resolver sentados a uma mesa, símbolo da partilha e da paz, aqui também sinónimo da esperança numa resolução pacífica da situação. Tempos houve em que não se agia desta forma e não nos referimos a períodos de guerra, altura em que os códigos, valores e princípios parecem ser ainda mais esquecidos que habitualmente. 

Os animais na História


Quando José Saramago escreveu A Viagem do Elefante houve quem pensasse que a história lhe tinha sido sugerida pela imaginação, mas não foi. O escritor baseou-se em acontecimentos verídicos, naquilo que o historiador Jorge Rodrigues chamou ‘A incrível história de Salomão, o elefante-diplomata de D. João III que viajou da Índia a Viena de Aústria’, no seu livro Salomão: o elefante diplomata, editado pelo Centro Atlântico. O elefante foi um presente bizarro mas muito apreciado e que ajudou a consolidar as relações do rei português com o seu primo austríaco.
Em 1515 D. Manuel I recebeu de um príncipe indiano um rinoceronte, que decidiu oferecer ao Papa Leão X. Os rinocerontes eram animais raríssimos aos olhos dos ocidentais e apesar de o Papa nunca ter recebido o animal, pois o navio que o transportava naufragou, o reino de Portugal marcou pontos aos olhos do papado.
Diga-se de passagem que este rinoceronte teve um importantíssimo papel no assumir da ilustração como instrumento de conhecimento científico, pois foi desenhado por um desconhecido, mas desse desenho foi feita uma gravura por um dos maiores artistas renascentistas, o alemão Albrecht Dürer, que correu mundo.
Por outro lado, na ficção, o norte-americano Lawrence Norfolk escreveu a história do animal num romance célebre, O Rinoceronte do Papa.
Colombo, Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu de Las Casas, entre muitos outros brindaram reis, Papas e demais senhores com papagaios, araras, iguanas, papa-formigas, anacondas, tatus, saguis, tucanos, periquitos, macacos e jacarés.
O exotismo dos animais recém-descobertos, oriundos do Novo Mundo, era aproveitado para ajudar a estabelecer e consolidar relações com diferentes reinos, numa época em que o ouro e o marfim, as especiarias e as sedas traziam valores monetários àquilo que seria a Europa e cujos governantes davam valor a prendas vivas, especialmente, se fossem originais.
Noutra vertente, o cartaginês Aníbal, considerado por muitos como o maior dos generais, usou elefantes para passar os Alpes na dupla perspectiva de serem animais possantes e aos quais havia um medo natural.

Agora pergunto: para que raio terei eu escrito isto? Estes parágrafos estavam nos meus papéis, com a minha letra, mas não faço ideia por que razão me debrucei sobre os animais na história. Seria vontade de inverter as coisas num dia em que me fartei de histórias de animais? Fosse o que fosse, não estava terminado porque as últimas palavras eram ‘Mais recentemente os animais também…’
Tenho que voltar a tomar a medicação…

Rumo ao Farol


As mãos de Virgínia Woolf produziram a orientação da minha vida. Rumo ao Farol podia ser o meu lema, uma vez que um dos meus sonhos é morar num farol.
Ter o mar como jardim, um barco como veículo, muitas escadas para chegar ao quarto e a porta da entrada aberta só para os intrépidos.
Poder ler ao lado da lâmpada num dia de sol é uma imagem que me alimenta. Inundar-me com a espuma das ondas altas que esbarram na parede única do farol, ver o horizonte até muito para lá do além na varanda com vista para o céu, ou jardinar na pequena alameda de acesso ao farol são pensamentos igualmente prazenteiros.
Por ora tenho livros sobre faróis – ganhei um novo exemplar de Rumo ao Farol, há cerca de duas semanas, obrigada! – tenho postais que me chegam de várias partes do mundo, quadros, alguns dos quais em cima da minha cama, espanta espíritos, roupa com faróis estampados, fotografias e imagens diversas.
Falta-me um a sério, mas não mudo de rumo. Quem espera sempre alcança? 

Os óculos de sol dela


Já arranjei muito bem
Tudo quanto convém
P'ra praia levar
O pente, o espelho, o baton
E o creme muito bom
P'ra me bronzear
Estas linhas fazem supor um dia de praia em grande! Bem sei que também devia levar, no mínimo, um pente para dar ordem a esta cabeleira, mas não me lembro de algum dia o ter feito; ainda assim, e tirando o creme para bronzear, que nos remete para épocas em que não se sabia o que era o buraco do ozono, não acho nada estranho.

Tenho o meu rádio portátil
E o bikini encarnado
Também está no meu rol
E como é bom de ver
Não podia esquecer
Os meus óculos de sol
Ora bem… aqui, definitivamente estamos no século passado. Rádio portátil? Oh minha senhora, a bem da eliminação da poluição sonora, arranje por favor uns auriculares e não obrigue os outros a partilharem a sua música.

Que levo p'ra chorar uuuuhuh
Sem ninguém ver
P'ra não dar uuuuhuh
A perceber
P'ra ocultar uuuuhuh
O meu sofrer
Pois eu sei que te hei-de encontrar
Talvez deitado à beira-mar
Com outra ao lado
E eu vou passar
A tarde a chorar
Bem… mas que grande surpresa! Então vai ser uma tarde de choro? Está enganada! Mesmo que o encontre, assim que ele vir o rádio portátil, faz-lhe o favor de se afastar e o seu problema fica resolvido!

Já pensei não sair
Mas aonde é que eu hei-de ir
Com este calor?
Ao cinema! Costumam ter ar condicionado, assim como as galerias de exposições que, estando assim tanto calor, estão vazias com certeza. Vá a uma matinée, visite um antiquário, absorva cultura, compre umas peças!

O que é que eu hei-de fazer
P'ra não ter que te ver
Com o teu novo amor?
Se teimar em ir à praia escolha a Costa da Caparica, que ele é gajo para ficar em Carcavelos. O que não falta por aqui são praias, não seja parva e faça-se à vida.

Ver-te-ei com certeza
Mas eu peço à tristeza
Um pouco de controle
Natércia, você é teimosa, hem? E masoquista! Desfaça-se é do rádio portátil, vista o bikini encarnado, peça ajuda ao jeitoso mais próximo para pôr o tal creme bronzeador, e dê uns bons mergulhos. Olhe, descontrole-se!

E pelo sim pelo não
Eu vou ter sempre à mão os meus óculos de sol
Vou chorar
Uuuuh uh
Vou sofrer
Uuuuh uh
Vou chorar
Uuuuh uh
Teimosa, é pouco! Oh Tessinha, deixe-se de birras, de choros e sofrimentos. Como um gelado! Uma bola de Berlim com muito creme! Um pacote de batatas fritas, Ti-Ti não queira outras!
Deixe o homem sossegado! A bem da verdade, acha que alguém quer ficar com uma chorona que leva um rádio portátil para a praia? 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ser feliz é...

A felicidade está encerrada no final das estórias de encantar. Foram felizes para sempre permite-nos saber da felicidade alheia, mas a nossa participação resume-se a ler e reler ou ouvir essa frase encantada, que não é nossa.
Partindo do principio que o que um homem faz, outro também consegue fazer, e se o e foram felizes para sempre é de alguém (acreditamos que uma fada ou um príncipe encantado são alguém), então há ali uma réstia de esperança que um dia se aplique a nós. Até lá, temos momentos felizes e em cada um revivemos cada sopro da vida.
Na quarta-feira fiz uma maratona no trabalho, e depois na estrada, para assistir a uma sessão de poesia onde os meus sobrinhos iam ler. Ela, com sete anos, usou palavras de outrem, lançou a voz e fez-se ouvir. Ele, com 9 anos, usou as suas próprias palavras, num poema chamado A Língua, e um pouco para dentro, partilhou connosco a sua criação.
Enquanto durou eu fui feliz para sempre.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Intolerância (?)

Ontem acusaram-me de andar muito nervosa. Eu li intolerante. É verdade, não nego.
Se o trabalho fosse um par de sapatos eu estava a calçar agora um 47 ou 48, quando um 38 já me fica largo.
As pessoas que trabalham comigo sabem que fico a pisar brasas em alturas de maior responsabilidade e que lido muito mal com falhas, erros, esquecimentos, enganos, o que for. Mas também sabem que eu não trabalho com qualquer um… escolho quem considero que é capaz de fazer, e daí ser acusada frequentemente de ser incapaz de descentralizar. Eu sou capaz de descentralizar se confiar, caso contrário, deixo tudo comigo.
Fico sem palavras com a ligeireza como certos erros são encarados e ajo ao sabor da fúria quando começo a ter receio de confiar em quem confio. Por vezes roço a obsessão com a mania das correcções, verificações e reverificações e fico a tremer com atrasos, faltas de cumprimento de prazos e quase entro em convulsões quando me respondem que podemos fazer de determinada maneira porque ninguém vai ficar a saber (nós não somos alguém?); toda a gente faz assim (eu sou Aquário, não Carneiro…) e outras respostas semelhantes.
O que mais me põe fora de mim é a culpa nunca ser da pessoa a quem foi atribuída a tarefa ou missão! Há sempre alguém, um alien talvez, que interfere na execução e perturba o trabalho.
Há uma injustiça em toda esta questão, uma injustiça com duas caras, como Janus. Por um lado, há quem pense que sou injusta pois a minha veia de exigência não é igual para todos. Por outro lado, sou exigente apenas com quem sei que vale a pena. Com outros não me dou ao trabalho, porque a exigência dá muito trabalho, acreditem ou não.
Quando me fazem uma pergunta ou colocam um problema tenho tendência a não responder de imediato se considerar que a pessoa que a fez consegue lá chegar sozinha; tento desenvolver uma conversa, numa espécie de maiêutica, para provar que a pessoa sabe o que pergunta. Mas nos últimos tempos isto raramente acaba bem e perguntam-me logo a seguir porque não me limito a responder…
Fico sem saber o que fazer, pois acho que o caminho certo é deixar que sejam as próprias pessoas a desbravar o pensamento, e invisto tempo nesta acção da qual, no fim de contas, resultam contas mal feitas.
Mesmo sabendo disto, pressiono para alargar limites, peço mais e mais, sendo de uma exigência sem tamanho como dizem, mas continuo a agir da mesma forma por uma simples razão: sei quem pode dar e quem não tem para dar. Destes últimos espero o básico, dos primeiros espero tudo… até acharem que ando muito nervosa…

terça-feira, 20 de março de 2012

Autor desconheçido

Uma das minhas tarefas é fazer a verificação de originalidade de dissertações e teses. Acabo de ler um trabalho onde os desconheçidos e desconheçidas são tantos que podiam fundar uma associação... e ficavam todos a conheser-se.
Hera tão jiro...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Downton Abbey, ou a perfeição em duas palavras

Em Downton Abbey é difícil destacar um momento que seja superior. Atrevo-me a sugerir as tiradas de Mrs. Grantham como o ponto alto duma cadeia montanhosa bem acima do ar respirável em matéria de séries de televisão.
Quando a senhora pergunta, petrificada, o que são fins-de-semana, como se a voz se lhe escapasse sem querer, em resposta à declaração do intruso que manifestou ter tempo apenas aos sábados e domingos, é-nos dado ver o interior da cultura da elite da época. Magistral.
Ainda a mesma personagem afirma que só a um estrangeiro (leia-se, não inglês) lhe passaria pela cabeça morrer em casa alheia, pior ainda, no lar de pessoas que mal conhecia.
Não, o objectivo não é fazer-nos rir mas, antes pelo contrário, mergulharmos na própria História.
Se Downton Abbey fosse um livro teria duas colunas lado a lado: uma para a visão dos senhores, outra para a perspectiva dos empregados, ambas sobre a mesma coisa, ambas muito diferentes.
A fotografia da série ajuda imenso a tornarmo-nos cúmplices daquela acção em dois planos – é fácil e quase inato, dizer plano superior e inferior, tentarei fugir a este facilitismo mesmo em pensamento. Há planos de pormenor magníficos, há imagens que sozinhas contam toda uma história ou, melhor ainda, revelam parte dela, para que nos questionemos e sejamos incapazes de abandonar a televisão.
Mudar de canal está fora de questão pela simples razão que nem nos ocorre que exista outra coisa para além do que estamos a ver e, obrigada, obrigada, nem sequer há intervalo.
O cerne da história tem origem na posição subalterna das mulheres. Não me vou deter nesta questão, entendendo que se o fizesse estaria a tentar transpor o presente para o passado. Não, limito-me a ver, a espreitar como quem viaja no tempo, um trabalho soberbo de realização, de cenários e diálogos, de direcção de actores, onde nada é deixado ao acaso e tudo é perfeito. Tudo é perfeito porque era assim, foi assim, não se discute se devia ter sido assim.
Quando o mordomo afirma que um castiçal tem um risco e lhe respondem que é tão pequeno que ninguém vê, ele argumenta com a verdade mais básica: ‘Basta eu saber que ele existe’. Irrepreensível.

terça-feira, 13 de março de 2012

A matança dos livros

Só agora me veio parar às mãos a História Universal da Destruição dos Livros, de Fernando Báez, de 2004, e editado em Portugal em 2009 pela Texto.
A cada página há que conter lágrimas e raivas e, acima de tudo, pensar o que fazer para parar com a carnificina. Não se sabe,mas acumula-se a raiva, que vai crescendo a cada capítulo do livro.
A história do livro é a história da maldade, da intolerância, da ignorância e do racismo. É a história do medo.
Um livro assim impõe ainda mais respeito que outro sobre diferente tema. Um livro assim merece ser visto com solenidade. Um livro assim tem que ser tratado como ícone, como alerta para o desaparecimento propositado de livros, com tudo o que significam.
Assim, esperava-se uma edição ainda mais cuidada que o normal, uma leitura mais intensa que resultaria numa tradução limpa, a que a revisão limaria qualquer pontiagudo.
Aguardo que o livro me chegue na língua original para confirmar se a Texto Editora, a tradutora, Maria da Luz Veloso e o revisor Luís Rodrigues trataram o sangue da humanidade que escorre naquelas páginas com ligeireza, dando a ler frases frágeis, meias incompletas, não rigorosas e medíocres.
Aguardo, para ver se a Bagdad da contra-capa que passou a Bagdade no interior, foi uma gralha. Perfeitamente evitável, diga-se de passagem.
Ainda assim, a ler, sem dúvida, para que todos saibamos o que nunca se deve fazer.

segunda-feira, 12 de março de 2012

A vida real

Acompanho uma série televisiva que num dos últimos episódios mostrava um conjunto de cenas onde uma das protagonistas se desfazia para devolver uma pomba ao bando.
A ideia da 'pomba', a menção, a visão, seja o que for, leva-me logo ao Max, daí ao Picasso e daí a um novelo de paz que, vá lá saber porquê, faz sempre este caminho e me desagrada.
Sábado de manhã à entrada do meu local de trabalho, desacelerei o passo para ver uma senhora dar umas migalhas a um pombo, que não sei se era pombo ou pomba, mas pombo sempre é melhor.
Lembrei-me da cena da televisão da noite anterior e como que fui acordada no momento em que o pombo debica o pão e ela o agarra e lhe torce o pescoço. A vida real é assim.

terça-feira, 6 de março de 2012

O sentido do fim


Não tenho qualquer curiosidade em especial em saber quem matou o Kennedy, mas gostava de ler o diário de Adrian.
Está a ouvir, senhor Julian Barnes?
Eu percebi que não mo ia dar a ler quando lhe arrancou aquela página cheia de equações, seu manhoso… mas mesmo assim, vá lá saber porquê, continuei a ler.
Fique a saber que a informação que presta abre a nossa curiosidade, coscuvilhice, chame-lhe o que queira, e depois, queimar assim o diário…? Dar-nos uma perspectiva real da vida? Cruzar a nossa cusquice com a atitude que se tomaria se fossemos a protagonista da história?
Como se fossemos… mas não somos, ficamo-nos por espectadores e os espectadores perdem sempre qualquer coisa. Gostei. 
Edição da Quetzal, 2011, foi vencedor do Man Booker Prize no mesmo ano.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Bonecas

As escadas rolantes rolam cegas aos passos que passam. Deixo-me levar segura do destino.
Duas vozes atrás de mim falam de bonecas de porcelana.
- Tenho dúzias… nem queiras saber…
- Nunca tive bonecas dessas
- Tenho imensos bibelots, mas as bonecas são as minhas favoritas
- Eu não gosto de ter os móveis cheios de coisas, custa mais a limpar
- Eu não me importo, passo horas a limpá-las e além disso o meu marido também as adora
- O meu marido adora-me a mim e eu passo horas a adorá-lo a ele.
Voltei-me para trás e sorri-lhe, num sorriso invejoso.