terça-feira, 23 de setembro de 2014

Zoom

Ontem à noite jantei fora de casa.
A caminho do restaurante para onde me convidaram, sem chuva, com o mar a ladear a estrada, os relâmpagos iluminavam-me o caminho.
Apesar de ligeiramente atrasada, desacelerei para poder captar aquele instante tão rápido do clarão reflectido na água, como se alguém no céu me estivesse a fotografar.
Estava tão feliz que devo ter ficado mesmo bem no retrato!

Depois da tempestade vem o Arco-íris

Somewhere over the rainbow
Way up high
And the dreams that you dreamed of
Once in a lullaby

Somewhere over the rainbow
Blue birds fly
And the dreams that you dreamed of
Dreams really do come true ooh oh

Someday I'll wish upon a star
Wake up where the clouds are far behind me
Where trouble melts like lemon drops
High above the chimney tops
That's where you'll find me

Oh, somewhere over the rainbow bluebirds fly
And the dream that you dare to,
Oh why, oh why can't I?

Well I see trees of green and red roses too,
I'll watch them bloom for me and you
And I think to myself
What a wonderful world

Well I see skies of blue
And I see clouds of white
And the brightness of day
I like the dark
And I think to myself
What a wonderful world

The colors of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people passing by
I see friends shaking hands
Saying, "How do you do?"
They're really saying, I...I love you

I hear babies cry and I watch them grow,
They'll learn much more than we'll know
And I think to myself
What a wonderful world world

Someday I'll wish upon a star,
Wake up where the clouds are far behind me
Where trouble melts like lemon drops
High above the chimney top
That's where you'll find me

Oh, somewhere over the rainbow way up high
And the dream that you dare to, why, oh why can't I?
I?

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Viva o Facebook!

Chovem picaretas em Lisboa durante duas horas.
O local onde trabalho alaga-se e eu alugo um par de galochas, sabendo que não vou sair daqui tão cedo e na expectativa que, quando vá embora, a tormenta tenha levantado. São os riscos do empreendedorismo!
A luz falta, onde há minutos estava uma estrada há agora um novo rio, não lhe conheço o nome, mas é dos grandes, primo do Tejo, por aí.
Urge procurar informações sobre a cidade, para dar resposta a duas pessoas que se deviam encontrar hoje comigo e que vêm do outro lado de Lisboa. Peço a uma colega que me pesquise a coisa e me mande os resultados para o mail. Em cinco minutos sou inundada - para fazer padan - por links. Links das Notícias ao Minuto? Dos Bombeiros Sapadores de Lisboa? Da protecção civil? Da Câmara?
Não, todos do Facebook. Imagens e vídeos de todas as qualidades e feitios com um denominador comum: muita água a correr pelas ruas.
Com um sorriso e o pensamento que devia ter feito a pesquisa sozinha, lá entro no site dos Bombeiros e vejo a localização das quase duas dezenas de locais muito complicados com inundações e adio as reuniões para amanhã.
Conclusão, o facebook é grande!

Aquele senhor alemão

Tenho ouvido falar de certos grupos musicais que têm como característica entrarem em palco sempre de maneira diferente. Lembro-me deles a propósito da minha muito querida mãe, cujo ar é de moça, mas a idade e as doenças pesam nos actos, nos gestos e nas respostas.
Ligo-lhes todas as santas noites e, sabendo que não estão bem, também de manhã. É o caso, sábado foi passado pouco alegremente no hospital com o meu pai, já estamos habituados.
Como são surdos e ouvem televisão muito alto, quando o telefone toca, por norma, é ela que atende enquanto vai pedindo ao meu pai que baixe o som. É aqui que revela uma imaginação sem par, qual Salvador Martinha, qual César Mourão, qual Rui Unas, qual Sal.
É na linha de Sintra que vive uma senhora que atende o telefone sempre de maneira diferente e que, para pedir para baixar o som da televisão, já pediu ao meu pai, e eu a ouvir:
Baixa a torneira
Carrega no autoclismo
Põe isso mais claro
Põe a televisão menos ligada
Ontem foi particularmente cómico, quando a ouvi dizer:
Põe a televisão mais barata!
Ainda estamos numa fase em que o riso prevalece, e tentamos rir todos, ela incluída, pois dá conta dos disparates que diz.
Rezo para que esta fase se prolongue por muito, muito tempo...

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A praga

Começo a pensar se não será uma praga que me rogaram...
Desde há uma semana que ando doente, tudo o que como vomito, já não posso ver canja nem ouvir histórias com pintaínhos.
Não sei quanto tempo duraram as pragas do Egipto, mas sinto-me solidária com aquela gente.
A uma semana com má disposição some-se canadas de água que vêm sem aviso e nos deixam com ar de bacalhaus demolhados, como diz Miguel Esteves Cardoso.
Sempre com calores - estou na menopausa desde que nasci - tomo duche de manhã ao levantar, quando chego a casa, antes de me deitar e, em algumas noites, a meio da noite. Temo pela conta da água, não sei se a conseguirei pagar.
Fiz a ruptura de ligamentos a 28 de Julho e tenho estado sempre com uma maleita qualquer. Espero que isto seja suficiente para pagar a conta das doenças nos próximos dez anos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Óbvio, cara mãe!

O meu sobrinho mais novo, na sua voz de dois anos a caminho dos três, pergunta à mãe do que são os óculos que alguém lhe ofereceu e que ele usa, transformando a realidade um pouco mais escura.
A mãe semicerra os olhos e diz que são óculos de aventureiro!
Ele reclama e volta a perguntar de que são os óculos!
A mãe inicia um ciclo de possíveis respostas:
De plástico, de ver, de menino bonito, de príncipe, de...
Ele, já amuado e sempre a dizer não, esclarece:
- São óculos de sol!

Há modas que não passam de moda

Save the last dance for me

You can dance-every dance with the guy
Who gives you the eye,let him hold you tight
You can smile-every smile for the man
Who held your hand neath the pale moon light
But don't forget who's takin' you home
And in whose arms you're gonna be
So darlin' save the last dance for me

Oh I know that the music's fine
Like sparklin' wine, go and have your fun
Laugh and sing, but while we're apart
Don't give your heart to anyone
But don't forget who's takin' you home
And in whose arms you're gonna be
So darlin' save the last dance for me

Baby don't you know I love you so
Can't you feel it when we touch
I will never, never let you go
I love you oh so much

You can dance, go and carry on
Till the night is gone
And it's time to go
If he asks if you're all alone
Can he walk you home,you must tell him no
'Cause don't forget who's taking you home
And in whose arms you're gonna be
Save the last dance for me

Oh I know that the music's fine
Like sparklin' wine, go and have your fun
Laugh and sing, but while we're apart
Don't give your heart to anyone

And don't forget who's takin' you home
And in whose arms you're gonna be
So darling,save the last dance for me

So don't forget who's taking you home
Or in whose arms you're gonna be
So darling, Save the last dance for me

Oh baby won't you save the last dance for me
Oh baby won't you promise that you'll save,
The last dance for me
Save the last dance, the very last dance for me.

Autoria de Doc Pomus e Mort Shuman

Mikis Theodorakis

A inconfundível música de Zorba, o grego, foi escrita por este homem, que tem um currículo musical invejável.
A descobrir.

Projecto X

Detestando filmes de terror, vi um recentemente que me deixou com os cabelos em pé. São novas formas de terror que também paralisam e assustam à séria: a inexistência de limites por parte dos mais jovens.
O filme conta a história de três amigos que organizam uma festa na casa de um deles, mas com receio de não terem aderentes, massificam os convites.
Afinal aparecem os que foram convidados e outros tantos, a ausência dos pais é compensada pela presença de álcool e drogas, a casa acaba destruída e incendiada.
A facilidade com que se chega aqui é assustadora, pois qualquer miúdo de dez anos tem nas mãos os meios suficientes para reproduzir uma coisa assim.
Sugere-se vivamente a visualização do filme, para se perceber que a parvoíce não tem limites e qualquer um pode ser arrastado para dentro das suas consequências.

Bairro de lata

Num olhar mais atento percebe-se que é quarentona. 
Esbelta e muito bonita, elegante no vestir, com classe até, senta-se diante de mim, de telemóvel na mão a marcar um número.
A classe evapora-se quando começa a falar: partilha a conversa com todos os túneis do metro de Lisboa e perfura tímpanos das pessoas mais próximas. 
O conteúdo da conversa perfura mais que os tímpanos.
Fala com a filha a quem explica que não pode ir dormir a casa porque vai ser operada na manhã seguinte; fala com a mãe a quem pede que tome conta da filha, afiançando que vai correr tudo bem. Volta a falar com a filha de quem se despede como se fosse morrer. 
Depois de uma despedida longa, chorosa e ranhosa, lá desliga o telefone.
Volta a marcar um número no telefone e, de rajada, com um tom de voz mais baixo, diz que está livre até segunda-feira. Do outro lado devem ter perguntado pela filha pois ela nomeia a criança e diz que acabou de falar com ela e que a miúda só quer ficar com os avós... 
A mim só me dá vontade de lhe pregar um estalo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Primeiro beijo

Por estar um dia mesmo bom para beijos...

Recebi o teu bilhete
Para ir ter ao jardim

A tua caixa de segredos
Queres abri-la para mim

E tu não vais fraquejar
Ninguém vai saber de nada
Juro não me vou gabar
A minha boca é sagrada

De estar mesmo atrás de ti
Ver-te da minha carteira
Sei de cor o teu cabelo
Sei o shampoo a que cheira

Já não como já não durmo
E eu caia se te minto
Haverá gente informada
Se é amor isto que eu sinto

Quero o meu primeiro beijo
Não quero ficar impune
E dizer-te cara a cara
Muito mais é o que nos une
Que aquilo que nos separa

Promete lá outro encontro
Foi tão fugaz que nem deu
Para ver como era o fogo
Que a tua boca prometeu

Pensava que a tua língua
Sabia a flor do jasmim
Sabe a chiclete de mentol
E eu gosto dela assim


Rui Veloso

Fim de Verão? Não...

Com o Verão agarrado às pernas desprezo a chuva e saio triunfante de casa, desconhecendo a greve do metro. A meio caminho volto para trás, alertada pelo noticiário, e encaminho-me para a estação dos comboios, que passam rápidos e muito mais vazios do que imaginava.
Na carruagem o calor é sufocante e o meu vestido cor-de-rosa impõe-se no meio de tanta roupa escura, invernosa. Os sapatos, cor-de-rosa também, mesmo no rés-do-chão de tudo quanto é acessório, brilham decadentemente.
É preciso fazer a avenida da Liberdade a pé, mas resolvo assustar-me com a chuva e deixo-me ficar num café do Rossio, como se fosse uma turista. As caras cinzentas de quem tenta chegar aos empregos contrastam com os narizes encarnados dos estrangeiros que, de chinelos, ali abundam.
Com o telemóvel vejo os números do euromilhões, decidida a fazer uma loucura caso tenha sido eleita: saio do café e paro o trânsito a dançar no meio da chuva! Virá a polícia, que me levará para a esquadra, e amanhã os jornais mencionarão uma louca que teve um ataque no centro de Lisboa e que ainda piorou a situação já caótica do tráfego. Verificada a total falta de correspondência, rio sozinha e decido que já chega de pieguice, vamos lá.
A chuva abrandou e faço a avenida encostada a lojas de vidros cristalinos onde nunca entrei, e não faço questão de entrar. Sinto o cabelo encaracolar, o mesmo cabelo que me levou a levantar mais cedo para o esticar com escova e secador, tão Cleópatra que saí de casa.
Qual pato de borracha a navegar na banheira, chego ao trabalho e troco os sapatos cor-de-rosa por uns pretos, rasos, fechados.
Os pés aquecem, o vestido seca, o cabelo insufla, os óculos limpam-se, o estado de espírito não foi afectado!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Luto de Agosto

Ao telefone com um amigo conto-lhe que passei grande parte de Agosto com canadianas, sem poder andar. Ele comenta que, tendo passado uma situação semelhante – muitíssimo mais grave em termos do acidente – aproveitou para ler tudo o que podia durante o período em que esteve na cama.
Fiquei envergonhada pois não fiz o mesmo.  Casei-me com a preguiça de tal forma que passei horas a olhar para a televisão, mais a mudar de canal que a ver fosse o que fosse, e a afastar pensamentos.
A páginas tantas ocorreu-me uma palavra que fez todo o sentido para descrever o meu estado interior: luto.
Senti-me de luto, triste e desamparada, com umas férias que eram tudo menos férias, com o rasto de uma amizade que se desvaneceu, sem dinheiro e a esforçar-me para sorrir a todos os que me visitaram ou me falaram por telefone.
Com as despesas hospitalares, medicamentos e a perspectiva de um corte substancial no ordenado de Setembro, apenas fui à praia na última semana de Agosto, tendo elegido Caxias, por ser a mais próxima de casa, para onde fui do nascer ao pôr-do-sol.
Apropriadamente ou não, li Que importa a fúria do mar, de Ana Margarida de Carvalho e reli A pianista de Elfriede Jelinek, duas gotas de água no oceano.
No último dia de férias, já em período de descontos, pois era Domingo, decido ficar em casa a arrumar roupa e a fazer limpezas. O meu filho levanta-se cedo e opõe-se determinantemente a estes planos, argumentando que o último dia de férias não pode ser passado em casa; eu que me vestisse, pois iríamos juntos à praia e ele oferecia o almoço, num sítio que eu ia adorar.
Assim, conduzimos até à Ericeira onde estava um mar apiscinado, ao contrário do habitual com ondas, conversámos sobre mil assuntos e comemos uma sopa de peixe quase à hora do lanche, da qual ele engoliu três pratos e que prometi tentar reproduzir em casa.
O meu luto coloriu-se nesse dia, o melhor de todo o mês, Agosto redimiu-se. 

Que mais me irá acontecer?

Depois de umas férias azaradas, entro azamboada na primeira semana de trabalho. Tendo o ano 52 semanas, sendo quatro de férias, estou a riscar a quadragésima oitava. Ainda a propósito da maleita que me obrigou a andar de muletas, logo no primeiro dia de trabalho vou ao médico. Diz-me a simpática senhora que, tendo médico de família, tenho que o conservar e para isso há dois requisitos: ir ao médico pelo menos uma vez no ano e ter as vacinas em dia. Já mo tinham dito e já tinha espiolhado a casa e a papelada em busca do respectivo boletim, sem resultados. Assim, foi necessário levar as vacinas novamente. Uma injecçãozita de nada que eventualmente me vai deixar um altinho no braço. Siga!
A injecçãozita de nada revelou-se uma cabra: febre, um inchaço descomunal, dores insuportáveis. Numa semana cumpri a minha quota mínima de visita aos serviços médicos para uma década. Que nunca tinham visto nada assim, e que pusesse gelo, e tomasse paracetamóis e ipobrufenos e etc., que era uma reacção à vacina – olhe, obrigadinha…
A meio da semana realizou-se o jantar de aniversário do A., em homenagem não tanto aos seus 53 anos, mas mais à vitória sobre a doença que o atacou a ele e nos afligiu a todos. Arrastada, lá fui, com uma roupa que não pensei levar pois o braço não me cabia na manga, de inchado que estava. Nem lhe cantei os parabéns, com a febre a azucrinar-me cada célula e regressei a casa onde me mantive a maior parte da semana até isto acalmar, qual tornado que se intensificava dentro de mim.
Assim que levei a vacina perguntei à enfermeira se podia ir à praia, ao que ela respondeu que não havia qualquer contra-indicação. Ora, nem praia nem meia praia, ainda para mais, choveu todo o santo fim-de-semana.
O início da quadragésima sétima semana leva-me a perguntar, que mais me irá acontecer? Com o pensamento positivo que procuro sempre, penso de quanto será o prémio do euromilhões…