segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Luto de Agosto

Ao telefone com um amigo conto-lhe que passei grande parte de Agosto com canadianas, sem poder andar. Ele comenta que, tendo passado uma situação semelhante – muitíssimo mais grave em termos do acidente – aproveitou para ler tudo o que podia durante o período em que esteve na cama.
Fiquei envergonhada pois não fiz o mesmo.  Casei-me com a preguiça de tal forma que passei horas a olhar para a televisão, mais a mudar de canal que a ver fosse o que fosse, e a afastar pensamentos.
A páginas tantas ocorreu-me uma palavra que fez todo o sentido para descrever o meu estado interior: luto.
Senti-me de luto, triste e desamparada, com umas férias que eram tudo menos férias, com o rasto de uma amizade que se desvaneceu, sem dinheiro e a esforçar-me para sorrir a todos os que me visitaram ou me falaram por telefone.
Com as despesas hospitalares, medicamentos e a perspectiva de um corte substancial no ordenado de Setembro, apenas fui à praia na última semana de Agosto, tendo elegido Caxias, por ser a mais próxima de casa, para onde fui do nascer ao pôr-do-sol.
Apropriadamente ou não, li Que importa a fúria do mar, de Ana Margarida de Carvalho e reli A pianista de Elfriede Jelinek, duas gotas de água no oceano.
No último dia de férias, já em período de descontos, pois era Domingo, decido ficar em casa a arrumar roupa e a fazer limpezas. O meu filho levanta-se cedo e opõe-se determinantemente a estes planos, argumentando que o último dia de férias não pode ser passado em casa; eu que me vestisse, pois iríamos juntos à praia e ele oferecia o almoço, num sítio que eu ia adorar.
Assim, conduzimos até à Ericeira onde estava um mar apiscinado, ao contrário do habitual com ondas, conversámos sobre mil assuntos e comemos uma sopa de peixe quase à hora do lanche, da qual ele engoliu três pratos e que prometi tentar reproduzir em casa.
O meu luto coloriu-se nesse dia, o melhor de todo o mês, Agosto redimiu-se. 

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