segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Paris, 20 de Março de 2005

Minha querida Margarida
Comprei um livrinho que cabe no bolso do mais pequeno casaco, mas cujos ensinamentos, ideias, frases e por ai fora, não cabem em sítio nenhum do mundo, à excepção (as regras têm sempre uma excepção) do coração.
É um livro sobre os amigos e fala daquelas pessoas com quem nós sentimos uma empatia, mas com quem pouco conversamos. E porquê? Talvez por isso mesmo, porque tudo o que pode ser dito, muitas vezes foi já partilhado sem sequer nos apercebermos, já foi pensado em comum, a quilómetros de distância – como eu estou agora - resumindo, foi sentido.
Não sei porquê, mas imagino-a a viver a vida como uma eterna, mas nem sempre terna, aventura, como uma luta intemporal entre o dever para com os outros e a vontade de seguir um caminho autónomo, sem interferências que não sejam aquelas dos obstáculos do próprio caminho. Mas afinal, não é a vida o caminho, feito das nossas escolhas? Pena que muitas vezes alguém assine por nós…
Temo não ser uma grande conversadora, de profundidade; tenho sempre a ideia que tudo o que digo é supérfluo e que as conversas das outras pessoas têm sempre mais substância e consubstanciam-se em pensamentos mais profundos, aproximando-se mais e melhor dos outros, que sofrem ou que precisam de nós, por um qualquer motivo. Temo ser inútil, embora tente não o ser.
Desculpe se isto lhe parece algo confuso. Como calcula, não deixo de me sentir meia idiota, ao expressar estes pensamentos, é como se estivesse no divã do médico a fazer análise. Um dia da última semana que passei em Lisboa, dei comigo a responder às perguntas da minha irmã, em silêncio, ou seja, ela perguntava e eu dava a resposta para mim. Claro que ela não ouvia resposta alguma e à segunda vez perguntou-me se a estava a ouvir. Achei aquilo estranho, porque houve um momento em que eu podia jurar que aquela era a única forma de eu comunicar. Enfim, coisas estranhas da minha cabeça acho que leio demais, devia parar. Mas estou viciada, mais do que nunca, em páginas que me levam daqui para lugar nenhum e para todos os lugares. E eu adoro. Só ainda não consegui contabilizar o mal que me faz. A ver vamos... Assim que chegar a Lisboa, combinamos um almoço e conversamos.
Um grande beijo e um abraço muito apertado da
Camila

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