3 de Abril de 2005

Mariana
Sou uma pessoa profundamente egoísta. Vou de férias e já estou a pensar que, provavelmente, não vai cá estar no meu regresso.
Claro que estou contente por ir ao encontro da sua menina. Sei como a faz feliz. Vê-se nos seus olhos, salta da sua pele, quando fala dela, quando diz que está doente e anseia por a tratar, ou por a beijar e apertar, como não se devem apertar os bebés, mas a ânsia é tanta que não o conseguimos evitar.
Traga-a e também eu ficarei feliz. Como pode ver, sou uma egoísta. Só penso em ser feliz.
Nunca lhe disse, mas desde que aqui entrei, achei que você era diferente. O seu riso aberto, a sua expressão franca, mas com malícia suficiente para ser cúmplice; por vezes não tinha nada para lhe dizer, mas ia beber café consigo. Dava-me prazer. Cá estou eu a ser egoísta, de novo.
Depois veio para junto de mim. Estava triste, amargurada, revoltada, confusa, mas eu, egoísta, não pude deixar de sentir uma certa satisfação, não por estar infeliz, claro, mas por estar aqui.
Tenho alguma dificuldade em fazer amizades. Pode não parecer, mas é verdade. Consigo foi diferente. Parecia que a conhecia desde sempre.
Confiei em si. Não me arrependo. Se me arrependesse, a cada dia que passa, me arrependeria menos.
Seja qual for o assunto, gosto da sua companhia, é alegre, bem disposta e tem um interior saudável. Você faz bem às pessoas, pelo menos a mim.
Desejo-lhe uma Santa Páscoa.
Desejo-lhe também, uma óptima viagem e que quando regresse, desta vez, venha acompanhada. Se o tempo que lá passar lhe parecer demasiado longo, não pense nisso, pense que o sacrifício vai ter uma compensação tão boa, que daqui a algum tempo só terá uma vaga ideia das dificuldades por que passou. A cada fotografia da menina, a cada aniversário, ou qualquer festa, a lembrança de quanto foi difícil todo este processo, irá apagando-se, diluindo-se e só restarão as coisas boas.
Não preciso de lhe lembrar que se precisar de mim…
Seja muito feliz.
Sua amiga
Camila