quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Minha muito querida Cila

Minha muito querida Cila
É tão difícil falar em situações como esta. Não sabemos o que dizer e como dizer. Tudo sai de uma forma que parece artificial, fria, indiferente, distante. Parece uma lição mal estudada e que custa a verbalizar na hora do exame.
Parece muita coisa e não é nada e é tudo. O que fazer?
Estar e nada mais. Estar ao lado, fazer os outros sentirem que estamos ali, como uma estátua que não nos aquece nem nos arrefece, mas faz com que não estejamos sozinhos e, pelo menos interiormente, sabemos que está ali alguém.
Imagino que se devam ouvir as mesmas palavras e frases, vezes sem conta, repetidas e gastas nos nossos ouvidos, como um batuque dum tambor: calma, paciência, esperança, …
Dentro do nosso peito só há sofrimento, dor, tristeza, irritação, indignação, perca de fé e mal estar geral.
Quando estas coisas são com os nossos pais ainda é pior: lembramo-nos de tudo o que lhes quisemos dizer e não dissemos, amaldiçoamos os momentos em que nos zangámos com eles e arrependemo-nos de não termos estado mais tempo com eles e dizermo-lhes o quanto os amávamos. Amargamos cada oportunidade perdida.
Rezamos muito a um Deus que, na maior parte das vezes, esteve ausente da nossa vida, ou então esteve presente na clandestinidade. E agora, nesta altura tão inacreditavelmente difícil e sufocante, pedimos-lhe que olhe, não por nós, mas por quem nós amamos. Quase que estamos dispostos a perder um bocado de nós. Afinal, os nossos pais são pedaços de nós e para os mantermos estamos dispostos a muito.
Estas situações são também avaliadoras dos nossos limites: eles são sempre maiores do que julgamos e a dor é sempre mais profunda do que conseguíamos imaginar.
Porém, se os nossos pais nos pudessem dar ordens de vida e dizerem, faz isto e não aquilo, mesmo contra nossa vontade, diriam que temos filhos e é com eles que temos que nos desgastar, que nos devíamos poupar para eles, para se eles precisarem de nós. E aqui, indignadas com esta atitude, nós dizemos que não conseguimos pensar em mais nada, pais são pais,…até olharmos para os nossos filhos e tomarmos a decisão de fazer com eles, ainda melhor do que os nossos pais fizeram connosco.
Amar os pais é das coisas mais duras da vida. Mais do isso, só amar os filhos.
Estou aqui ou onde tu quiseres, quando precisares.
Camila

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