quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Malas de Viagem


Desde que me lembro de mim que tenho uma paixão por malas de viagem. Companheiras silenciosas de caminhos explorados, guardadoras de segredos, palmilham quilómetros e nunca sabem qual será o seu destino.
Ao contrário de imensa gente, nunca perdi uma mala (e já estou a bater na boca para que isso nunca aconteça...), ou melhor, nunca perdi uma mala em viagem. Na verdade, perdi a mala da minha vida por uma estupidez.
Num passeio pela baixa lisboeta, dei com os olhos nela aprisionada numa montra. Senti que encontrava algo que era meu, mas cujo paradeiro desconhecia. Parei uns décimos de segundo a arrebatá-la com o olhar, o tempo suficiente para a minha irmã perceber que íamos entrar na loja. O preço era de loucos! Saímos da loja e voltámos a entrar, como quem se esqueceu de qualquer coisa lá dentro. O bom senso pôs-me na rua novamente e fomos embora; a minha irmã azucrinava-me os ouvidos a dizer que a mala ‘era minha’. Porém, demorei algumas horas a decidir-me e quando voltei, determinada a levar o que era meu, já alguém se tinha antecipado...
Nunca me esqueci da sua imagem: rectangular, em couro castanho, esperando carimbos e autocolantes, com lugar marcado no meu quarto, em sítio onde a pudesse ver todos os dias, a ela e a tudo o que uma mala de viagem significa para mim.
Tenho várias, de diferentes cores e feitios, mas aquela era A mala. Já as emprestei e não me importo de o fazer, contudo, não as empresto a qualquer um. Passa-se o mesmo com os livros, o empréstimo deixa-me uma sensação estranha, aguardando ansiosamente a sua devolução, como uma mãe espera ansiosamente que o seu filho volte da rua, são e salvo.
Talvez porque cada viagem, cada deslocação que implica levar uma mala, seja especial e diferente de todas as outras, tenha direito a descrição em papel, seja sentida e apaixonada, as malas são objectos pessoais e de culto.
Os sacos de viagem também ocupam um lugar especial na minha casa. Há um, em particular, muito especial; tem mais de vinte anos e muitas, muitas histórias para contar. Fui eu que o comprei para oferecer ao pai do meu filho quando ele foi para a tropa, motivo porque se chama o Saco da Tropa. Depois desta utilização particular, foi usado por nós dois em conjunto, por mim sozinha e agora já também pelo meu filho em algumas das suas deslocações desportivas. Escusado será dizer que quando me divorciei fiquei com ele...

1 comentário:

  1. Delicoso; tu dentro das coisas, e as coisas dentro de ti, e vem tudo mar acima a rebolar, e chega aqui. Foi o melhor presente de natal, atrasado... e a prova provada que melhor que sermos os melhores, é encontrar gente melhor que nós - o prazer supremo. Nada melhor que um blog para os irmos encontrando todos os dias, pela vida fora.

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