Lembro-me muitas vezes do que sonho de noite quer sejam pesadelos ou sonhos bons. Por vezes acordo com vontade ir à casa de banho ou com sede. Se estiver a meio dum pesadelo bebo água, mas se o sonho for bom, volto a adormecer e reentro nele. Quando falo nisto lembra-me a Blimunda Sete Luas que dormia com pão à cabeceira para o engolir assim que abria os olhos e perder a faculdade de ver para além do que se oferecia à vista comum. O que é facto é que se beber de noite já não consigo voltar a sonhar o mesmo e se não o fizer, mesmo que vá à casa de banho, mesmo que acorde, consigo reabraçar o sonho. É como se fizesse um curto intervalo e regressasse à sala de cinema. Não sei se reentro no sonho no momento em que o deixei, ou seja, não sei se a fita pára, ou se, ao contrário, perco alguma coisa da acção. O que sei é que volto.
Aconteceu hoje, com um sonho que me enganou.
Estava com uma grande amiga, duas conhecidas e a minha mãe. Estávamos deitadas numa praia de águas translúcidas, areia branca e fina. O sol estava quente e entrávamos numa água cheia de peixes coloridos. A minha mãe ria com as anedotas que lhe contávamos até que dentro de água saiu um toureiro, com capa e espada. Avisou-nos que o touro estava quase a sair e que nos afastássemos. Pensámos que era louco, rimo-nos dele e deixámo-nos ficar.
Acordei como quem se levanta dum mergulho prolongado, com uma espécie de falta de ar. Levantei-me e vi que era quase de manhã. Voltei a deitar-me, desejando voltar aquela praia, e assim que adormeci vi o nadador-salvador vestido de bandarilheiro e as palmeiras que rodeavam o areal tapadas com uma cerca vermelha escura. O homem gritou que o touro está quase a sair. A boa disposição desvaneceu-se com aquele segundo aviso, elas agarraram nas toalhas e procuraram o caminho para casa mas todos os caminhos estavam tapados. Restava o mar. Largaram as toalhas e correram para dentro de água, a minha mãe chorava e dizia que não sabia nadar. O toureiro fazia passos com a capa e a muleta, preparando-se para a exibição, o bandarilheiro encostado às tábuas encarnadas olhava o horizonte e um peão de brega aproximou-se a correr não sei de onde. Um pequeno bezerro corria pela praia. De repente vi a minha mãe num barco de pesca, parado na água em frente à areia e as outras a nadar ao pé do barco. Eu via a acção mas já lá não estava. A minha mãe chorava e gritava o meu nome, as outras tentavam acalmá-la. O toureiro recusou-se a tourear o bezerro, dizendo que queria um touro. Os outros tinham desaparecido e o toureiro falava para uma assistência imaginária, com o traje de luces a brilhar intensamente debaixo do sol. O bezerro dava marradas teimosas nos tapumes e conseguiu deitar um deles abaixo. A minha mãe saltou do barco com a ajuda das outras e aproveitaram um momento de distracção do animal, correndo e passando pela abertura que ele fizera. Imediatamente a seguir o despertador tocou e eu danei-me comigo por não ter bebido água quando acordei.
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