João Tordo põe o próprio narrador de O Bom Inverno a falar com o leitor em notas de rodapé para esclarecimentos interiores, o que achei fantástico. Este livro remete-me para uma versão negra de Os amigos de Alex, quando cria no leitor uma expectativa sobre uma das personagens – Don – que morre sem intervir directamente na acção, mas é dela linha condutora do princípio ao fim.
Foi o meu primeiro João Tordo e gostei da escuridão. A certa altura também me fez lembrar o Sr. José de Todos os Nomes de Saramago, durante o assalto à escola, principalmente quando, já no interior, o Sr. José se senta a descansar, criando no leitor uma ansiedade semelhante à dos espectadores que gritam para o ecrã do cinema cuidado, olha para atrás de ti! O protagonista de O Bom Inverno mantém a calma, sempre, mesmo enredado numa acção que nos aparece como de terror. Quem será o próximo a morrer, é uma pergunta que me assolou mais do que saber quem mata aquela gente. Porquê? Porque isso me faz avançar na leitura sem lhe vislumbrar o fim.
De vez em quando, só de vez em quando, perco-me em divagações sobre o que acontece aos personagens, depois do fim dos livros. Já imaginei um local onde vivem e comecei um conto sobre o assunto. Inacabado. Quero fazê-los cidadãos dos cinco continentes (agora parece que são seis) com várias vidas, uma em cada continente, como me disse numa ocasião o meu amigo V.
Ou seja, há personagens que gosto de reencontrar e os sobreviventes de O Bom Inverno, serão uns deles.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
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