sábado, 2 de outubro de 2010

O meu Euromilhões

Com alguma esperança, como sempre, vou verificar o papel do Euromilhões. Tinha jogado com 10 euros excepcionalmente e verifico que consegui a proeza de não acertar um único número ou estrela. Dos milhões de pessoas que jogaram devo ter sido a que mais longe ficou de qualquer prémio. Lembro-me que antigamente no Totobola havia um prémio para quem acertasse em zero! Não sei se ainda é assim, mas se fosse, eu esta semana ganhava qualquer coisa.
Vejo que já passa da meia-noite e lembro-me que a minha amiga I. faz anos hoje. Vamos estar juntas o dia praticamente todo e tentarei proporcionar-lhe excelentes momentos. Se tivesse ganho alguma coisa a prenda seria maior, assim ficará por algo simbólico, que não deixa de ser apropriado pois ela é um símbolo. Conquistou mais na vida que qualquer alpinista, mas nem ela própria se apercebe do caminho que percorreu, à força de sangue, suor e lágrimas, mas fê-lo. Sei que a ajudei e fico feliz por isso, mas os caminhos podem ser-nos indicados, mas somos nós que os percorremos, somos nós que tropeçamos, somos nós que caímos, somos nós que nos levantamos.
Ela fez tudo e sempre de cabeça erguida. É um símbolo de força, persistência e paciência, paciência essencialmente comigo que nem sempre demonstro a sensibilidade que ela merece. É a prova viva que desconhecemos os nossos limites, que os conseguimos ultrapassar, que somos capazes de tudo, sem recursos, sem apoios, sem chão nem céu.
Somos muito parecidas e muito diferentes. Não faço qualquer esforço para estar com ela, a falar ou em silêncio, naqueles silêncios tantas vezes constrangedores, mesmo entre amigos. Para mim é inato estar com ela, falar dela, incluí-la nos meus planos de café pela manhã, de almoço, de férias ou de caminhada ao fim de semana. Faz-me falta, completa-me, como disse alguém, como a areia faz com o mar.
Discordamos muitas vezes, muitas mesmo. Mas ouvimo-nos, e conversamos sempre. A minha amiga I. nem sempre está feliz, embora faça esforços descomunais para mostrar boa cara. Lembra-me outra amiga, a M., que apesar duma vida dura e complicadíssima, nunca lhe vi a cara sem estar a sorrir, sabe os aniversários de toda a gente, telefona com genuína preocupação a saber de todos. A I., talvez por estarmos juntas todos os dias, já não me consegue esconder as tristezas, nem as pequeninas. Adianto-lhas e ela abre o coração e conta o que lhe vai na alma. Há muito tempo que soube que nunca seria tão rica se não a conhecesse e se esta amizade não se tivesse proporcionado, instalado, crescido e desenvolvido.
Do fundo do coração declaro que se no dia de hoje me dessem a escolher entre ganhar o fabuloso prémio do Euromilhões e conservar a amizade com a I. eu escolhia a segunda hipótese. Mesmo sabendo que com a primeira lhe podia resolver a vida, assumo o acto de egoísmo de escolher a amizade dela.
Sei que a amizade é profundamente recíproca, mas também sei que dependo mais dela que ela de mim, embora possa parecer o contrário.
Assim, por muito que eu adorasse ganhar 100 milhões de euros, não os troco pelo dia de aniversário dela, que passaremos juntas, com muita boa disposição, gargalhadas e cumplicidades. Só quem me conhece sabe que falo verdade. Há coisas que não têm preço.
Parabéns I.

1 comentário:

  1. Amigos são realmente o melhor desta vida! Parabéns... às duas, são realmente mulheres muito mais felizes, muito mais ricas.
    SPA

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