Raios partam o José Luís Peixoto e mais o Livro! Deitei-me quase às três da manhã, a ler, a ler, a ler. Pergunto-me se os autores se questionarão sobre o que fazem aos seus leitores, sobre como lhes alteram as rotinas, sobre como lhes interferem na vida. Acho que não. Sabem que muita gente ou pouca gente os leu, sabem, pelos números de vendas, quantas pessoas conhecem aquela história, sabem aproximadamente em quantas casas repousa a lombada do livro, alinhada numa prateleira. Mas não sabem mais nada. Não sabem, por exemplo, que são responsáveis pelas diminutas horas de sono de alguns leitores, entre os quais, eu. Não sabem que há leitores que conseguem visualizar o que descrevem, sentir em comunhão com quem deambula pelas páginas dos livros feitos protagonistas. Sinto-me como se vivesse várias vezes em simultâneo, não deixando uma vida para respirar pela outra e agir por uma terceira. Felizmente nem todos os livros são assim. Nem todos nos escangalham. Há livros cujos interiores nos puxam lá para dentro, obrigando-nos a viver outra existência que, de repente, sob o pretexto de comprarmos um livro, é nossa. Pode ser uma lotaria mas há livros que têm mais tendência para este comportamento que outros, sim, porque são os livros que têm a audácia de nos absorver.
Mudo de posição no sofá e sinto frio. É nesta altura que resolvo ir deitar-me. Olho as paredes de casa para ter a certeza que é a minha, que não é alguma do Livro, olho as paredes de casa como se tivesse que me orientar, saber para que lado é o quarto ou a casa de banho, como se tivesse acabado de chegar duma das outras vidas e precisasse duns momentos para ser só eu outra vez.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
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