quarta-feira, 13 de outubro de 2010

13, dia da sorte, dia da luz!

Luis Urzúa. É o nome do último mineiro a ser resgatado hoje das profundezas da Terra, da barriga duma mina. Terá que ver a Fénix, a cápsula vaivém que os regurgitará, subir e descer trinta e duas vezes, fora os testes, até ver a luz do dia.
Neste preciso momento em que a operação de resgate se efectua tento imaginar os pensamentos deste homem e só consigo arrepiar-me até à medula e ficar com os olhos rasos de água.
Desconheço que critério ou sorte ditou a ordem pela qual os mineiros vão saindo, mas a lista foi publicada num jornal e dada a conhecer às famílias, tendo Luis Urzúa ficado em último pela liderança que demonstrou nas duas primeiras semanas, quando subsistiam dúvidas sobre se os mineiros estariam vivos.
A Fénix tem uma câmara que permite o contacto com a superfície e a subida tem demorado quinze minutos, para cada trabalhador. Mais vinte de descida e outros vinte para fazer entrar o próximo passageiro e prepará-lo, são 55 minutos. Apenas uma hora, mas que se prolongará por vidas inteiras, de memórias aflitas mas esperançadas, de angústias familiares. A lembrança perdurará para sempre.
Assim foi com Roberto Canessa Urta e Fernando Parrado Dolgay, dois dos sobreviventes do acidente aéreo que fez despenhar um avião numa das zonas mais inóspitas do Andes em 1972 e que mostraram o mesmo espírito e determinação de sobrevivência de Luis Urzúa, pondo-se a caminho do incerto e do vazio com uma candeia de esperança que nunca se apagou e que lhes permitiu trazer socorro aos que ficaram no local do acidente, salvando 14 pessoas que estiveram mortas durante dois meses e ressuscitaram para o mundo graças ao espírito combativo e intolerante com a morte daqueles dois homens.
Uns a quase setecentos metros de profundidade, com uma temperatura estimada de 30 graus, e outros a cinco mil metros de altitude com temperaturas na ordem dos 20 graus negativos são exemplos dos limites a que se consegue chegar. Mas nesses limites há sempre uma voz que se destaca, uma voz que ordena que a missão dos demais é viver e que os proíbe de se deixarem morrer.
Claudio Yáñez Lagos pediu a namorada em casamento do interior do túmulo. Ela disse que sim por procuração duma câmara e aguarda reafirmá-lo de viva voz. Claudio é outra imagem duma lanterna cujas pilhas se alimentam de fé, numa vida a dois ainda não iniciada e que tem como berço uma tumba colectiva. Foi o oitavo mineiro a sair. Luis Urzúa continua à espera, como comandante dum navio, será o último. Porém, tenho a certeza que sorri.

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