quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Media Market

A campanha publicitária do Media Market é de génio! Sim, eu é que não sou parvo (o sim está a bold porque é dito com imensa crença e afinco) é uma tirada que não tem comparação com alguma outra pois nunca houve no universo publicitário, uma coisa tão portuguesa, um estribilho tão enfunado, um lema repetido com convicção por gente de bigode façanhudo que nos faz prostrar a seus pés perante tamanha iluminação. Os que não são parvos sobressaem entre os totós e reconhecem-se por usarem meia branca e colarinhos bem abertos, peitaça à mostra, numa atitude que não deixa dúvidas sobre quem são, gente sem medo, e não têm medo porque não são parvos!
Sim! Eu é que não sou parvo, não nos deixa imunes porque é dito com uma voz troante e que carrega bem em cada sílaba, como se fosse um autómato que repete sem saber o significado do que diz, mas isto é só parecença, porque quem o diz não é parvo.
A eficácia da campanha assenta num país de espertos onde cada cidadão tem um QI, de quanto não sabemos, mas tem. E os tontinhos que acharem que QI quer dizer Quociente de Inveja, por não poderem suportar que o vizinho tenha uma galinha melhor que a minha, desenganem-se porque quer dizer Quociente de Identidade! A nossa identidade é inatamente esperta e porquê? Porque sim, porque eu é que não sou parvo! É claro e óbvio!
Quando precisar de comprar alguma coisa irei ao Media Market porque algo me diz que qualquer aparelhómetro ou electrodoméstico já vem a trabalhar pelo caminho, previamente ensinado e ensaiado, sem precisar de manuais de instruções, porque isso é para totós. Por outro lado, sinto-me intimidada ao pensar que entrarei num local onde vão os que afiançam que não são parvos, gente doutra estirpe com vários anéis nos dedos até no mindinho. Pensando bem não vou, pois sentir-me-ia como se entrasse no Paço Real, qual plebeia que só vai ver porque não se pode alcandorar a dizer que não é parva, uma vez que sendo todos tão espertos, assim que se quisesse fazer passar por um deles era logo descoberta.
Caramba, mas fico com pena.

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