segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Terrorismo familiar

De todos os concursos que dão na televisão o mais violento, o mais atroz, o mais brutal de todos é Toddlers & Tiaras. Crianças de 9 e 10 anos (há uma categoria dos zero aos oito anos!) participam num concurso de beleza onde são manietadas pela manicura, pedicura, cabeleireira, maquilhagem e pelas suas mães e pais numa montanha russa de entradas e saídas de palcos onde têm que se portar melhor que as outras. Ao vê-las temos a vaga ideia que por baixo daquilo há uma criança, pois à primeira vista parecem bonecas articuladas a pilhas. As mães, todas gigantes a fazerem lembrar tanques de guerra, incentivam-nas a mostrarem os verdadeiros sorrisos e não os artificiais, como se aquela tacha arreganhada pudesse ser natural mesmo numa boneca de porcelana. É deplorável ver as mães em frente ao palco a acompanhar as coreografias das crianças, balançando as banhas das enormes barrigas, como se fossem uma enorme estátua de gelatina.
Uma menina diz que tem fome, os pais dizem que comerão mais tarde, agora é hora dos alongamentos. Quando tiver uma tiara na cabeça já nem se lembrará. Uma mãe, qual bisonte, ao ver que a filha não ganhou nada afirma não concordar com a decisão do júri e diz que a pequena começará a treinar para o próximo evento assim que chegar a casa.
Este terrorismo familiar terá assim tantas diferenças com outras formas de violência doméstica, aquelas que nos são mais próximas? Acho que não, a não ser pelo facto de ser público e aplaudido, de ser mascarado pelos paizinhos e mãezinhas como qualquer coisa boa para os seus petizes. Por outras palavras, poderia dizer que há os que pregam estaladas e dizem aos filhos que é para o bem deles, e há os que pavoneiam crianças, algumas quase de colo, como se fossem adultos na forma, e dizem igualmente que é a pensarem no futuro da sua prole.
As mães, os pais também, mas é mais evidente no lado materno, projectam a beleza que gostariam de ter ou ter tido e pedem às suas crianças, rapazes e raparigas, que se sujeitem a torturas, que lhes incutem como momentos de prazer e de diversão, para seu próprio gáudio. Algum dia conseguirão ver as atitudes que hoje tomam? Que poderão fazer para minimizar os estragos?

Sem comentários:

Enviar um comentário