Como vivo só com o meu filho, as tarefas ditas de homem têm recaído no meu pai, mas agora que ele não pode, para além de ter dado um candeeiro e a colocação dum cortinado a estranhos, tenho sido eu a fazer algumas coisas. O mais surpreendente disto é as coisas terem saído razoavelmente bem feitas.
Tenho umas gavetas teimosas que só abrem ou fecham quando lá bem entendem, a menos que usemos da violência, o que me dá cabo das mãos. Então resolvi lixá-las e ver se, um pouco mais magras, já deslizavam melhor.
A marca da lixa é Dexter. Lembro-me da série de televisão sangrenta e sanguinolenta e concluo que a lixa é de elevadíssima qualidade. Passei a tarde de sábado a lixar gavetas enquanto a cozinha parecia um campo onde tivesse nevado neve amarela muito fina e delicada.
Comprei papel para forrar as portas dum armário e a madeira que esconde o estore e preparava-me para a colocar quando me apercebi que não tinha comprado cola! Os funcionários do Leroy Merlin devem pensar que fiz algum voto de peregrinação à loja porque nesta minha nova actividade esqueço-me com frequência de pequenos detalhes e tenho que lá voltar amiúde. É a falta de experiência! Mais uma chave de fendas pequenas que a única que tenho é para parafusos de linhas de comboios, mais um martelo, que o que lá mora em casa tem os dois lados em silicone, não sei para que raio serve aquilo, e muito menos para que o comprei.
A caixa do estore da sala é coberta de tecido, com mais desaparafusar e parafusos a caírem pelo chão da sala e a brincarem comigo às escondidas por baixo dos móveis, como se não soubessem que estou exausta de subir e descer do escadote.
O trabalho final deixa-me satisfeita, tanto que nem parece meu.
Afinal sigo o conselho da minha amiga e ando entretida com arrumações, renovações e limpezas. Pouco mais há no meu horizonte.
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