Dizem que aos pobres o pão cai ao chão sempre com a manteiga para baixo. Ontem aconteceu-me quando decidi levar o computador para ser limpo dos vírus. Escorregou-me da mão e partiu-se todo. Ainda o levei a duas clínicas informáticas e, na primeira informaram-me que só o monitor me custaria uma fortuna. Na segunda, tenho de recolher segundas opiniões, foram peremptórios em afirmar que não se vendiam monitores daquela espécie, o que foi reconfirmado com telefonemas. Trouxe o computador de volta para casa e uma sensação esquisita no estômago. Um vazio, acompanhado de tristeza e da antecipação da cara do meu filho quando lhe contasse o que acontecera.
Ele estava com o pai a passar o feriado e ligou-me a meio do dia, como faz tantas vezes quando não está comigo; calhou contar-lhe por telefone e foi por telefone que ele me disse e repetiu que ‘paciência’, que não ficasse triste, que havíamos de comprar outro e mil outros incentivos a que eu largasse aquela angústia, aquele peso nos ombros.
O dia foi triste e fui invadida por uma vontade de chorar enorme, embora tivesse visto os meus adorados sobrinhos.
Passei a tarde do feriado entre comprimidos para as dores de cabeça e tonturas e passados a ferro, fazendo um esforço enorme para limpar e arrumar a casa. O Duarte chegou com dois pares de calças novos que o pai lhe comprou e até as experimentou para eu as ver, coisa que ele detesta, para me ver mais alegre quando lhe dizia que lhe ficavam a matar.
Lembro-me que em situações menos boas o pai dele e eu nos aproximávamos, como se fosse preciso algo correr mal para mostrarmos que conseguíamos ser um só. Quando tivemos um acidente de automóvel e eu fiquei um bocado maltratada ele foi incansável, carinhoso e espectacular, atitude que nunca atribuí a sentimento de culpa por ser ele que ia a conduzir e que via como o raro desabrochar da humanidade dele que, normalmente, me parecia ser um cirurgião frio e racional.
Penso nisto e considero que o Duarte ficou com coisas boas do pai, uma vez que reage assim, mas foi muito para além pois é igualmente amoroso, espontâneo e humano com muitas outras coisas, que me conta no meio de sorrisos.
Seja como for, nada me trará o computador de volta e tenho que esperar até poder comprar outro.
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