terça-feira, 19 de outubro de 2010

A minha escolha

Sabendo da minha sede de viajar, tão grande quanto o meu vício de ler, apenas não tão concretizada por questões financeiras, desafiam-me para em 20 linhas dizer onde gostava de ir e porquê. Difícil.
A primeira tentação é agarrar o que me vem ao pensamento, deixar-me voar e perder-me. Tento criar alguma disciplina e, não fosse eu o que sou, organizo a coisa por ordem alfabética. Muito discutível, mas eficaz, principalmente para mim, que anseio por tanta distância, toda, qualquer distância que me trará conhecimento e riqueza.
Nestas poucas linhas revisitei de memória livros e filmes, lembranças de lugares onde nunca fui mas cuja menção me faz arrepiar, ruas que conheço sem saber que existem, paisagens que me sufocam de emoção. Acredito até que alguns destes locais poderão ser desilusões, mas por ora são esperanças e não desisto delas nem que chovam canivetes.
A cada um dos locais eleitos foi agregada uma razão que, obviamente, não será a única, mas é um dos motivos de eleição. A forma telegráfica foi a maneira de conseguir não ultrapassar as 20 linhas impostas e revelou-se uma boa opção, embora condicionada.
Há vários locais que não são nomeados pelo feliz motivo de já os conhecer. Mas mesmo assim, a muitos, a quase todos, a todos, adorarei voltar.
Há viagens que vivem sempre na minha cabeça até as realizar, a maior parte ainda cá mora; para dizer a verdade, não são bem viagens, são mais momentos: percorrer o Siq, caminhar na muralha da China, petrificar na Praça Vermelha, respeitar a Praça de S. Pedro, navegar em Veneza, ser abocanhada por S. Paulo, ter um pé de cada lado no círculo polar árctico, parar a meio da Ponte do Bósforo entre a Europa e a Ásia, ver o mar no Cabo da Roca, extremo oeste da Europa Ocidental e podia continuar, não até à exaustão, porque não me cansaria. Outras ainda estão por realizar, coisas simples para mim, simples na perspectiva da necessidade, do anseio, como usar o Mekong e ir a Angkor Wat ou ajoelhar-me aos pés do Kilimanjaro.
Há outra viagem, uma verdadeira colecção de momentos da qual, tenho a certeza, vou tirar o maior partido; sendo a mais longínqua, a mais inacessível, dela não tenho dúvidas, pela companhia que me está reservada, pela mão que me conduzirá pois, ao contrário do que tenho feito, serei levada e por isso espero, com a maior esperança, aquela espera que sabemos ir ser recompensada, quando formos à Lua. O meu companheiro ainda é uma criança, como uma duna a ser criada, mas a certeza que tenho é maior do que o Everest.
Assim, por agora, em menos de 20 linhas, aqui fica a minha escolha e o singular é propositado: cada um vale por todos, pelo planeta que amo, as cidades que venero, as pessoas que me atraem, as montanhas que me marcam, os mares que me afogam nesta superfície da vida. Ir é viver, que ninguém duvide.

Arábia por Meca; Azarbeijão por Baku; Butão pelo simbolismo; Botsuana pelo Kalahari; Cambodja por Angkor Wat; Chile pela Patagónia; Dinamarca pela Jutlândia; Djibuti pelos lagos de água salgada; Eritreia pelo Grande Vale do Rift; Egipto pela História; Fiji pela água; Filipinas por Manila; Guatemala pelos vulcões; Geórgia pelo alfabeto; Haiti pela feitiçaria; Hungria por Budapeste; Índia por Gandhi; Iraque pelos sumérios; Japão pelos samurais; Jamaica pelo sincretismo; Kiribati por ser tão pequeno e ocupar uma área tão grande; Kuwait pelo exagero; Líbano por Beirute; Líbia por Tripoli; Mongólia por Ulan Bator; Madagáscar pela localização; Nova Zelândia pela distância; Noruega pelas auroras boreais; Omã pela Fortaleza de Mascate; Panamá pelo canal; Peru pelos Incas; Quénia pelos Masai; Quirguistão pelas estepes; Ruanda pelo Virunga; Roménia pela Transilvânia; Singapura pelo porto; Síria por Damasco; Tanzânia pelo Kilimanjaro; Tailândia por Banguecoque; Ucrânia por Kiev; Uganda pelo Lago Vitória; Vietname por Saigão; Venezuela pelo Salto Ángel; Zâmbia pelas savanas; Zimbabué pelas Cataratas Vitória. O Pólo Norte e o Pólo Sul pela essência do que são.

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