O Grande Carrossel, no original Ace in the Hole, é uma história fabulosa e arrepiante (nomeado para melhor argumento em 1952) que recordo a propósito dos mineiros chilenos, já resgatados. A história baseia-se na persistência dum jornalista em conseguir um furo jornalístico e para isso atrasa o resgate dum homem, lembro-me dum, não sei se havia mais. Recordo que a meio da acção alguém ou alguma coisa permitia que o homem fosse resgatado, mas a ânsia e a fúria do jornalista, de voz rápida e convicta, consegue o impensável, que a operação de resgate não se realize, em nome das audiências e, se bem me lembro, o homem morre, sem grandes problemas de consciência dos da superfície, que precisam de aumentar os lucros, em função da necessidade de comer.
Nunca esqueci este filme, assim como O Homem de Kiev; a cena onde o carcereiro lhe cospe na sopa e lha dá, e ele, faminto e aterrorizado, come-a, é inesquecível. Podia enumerar outros, mas estes dois chegam e, vá lá saber-se porquê, um lembra-me o outro.
Ouço que os mineiros chilenos sofrem de diversos traumas (pudera!), são divulgadas informações segundo as quais, eles pediram para sair antes da tragédia, vejo-os na televisão a chorarem perante a luz do mundo dos média, televisões do mundo inteiro debruçadas sobre eles, eles que sobreviveram na escuridão, e quando digo sobreviveram não me refiro aos meses que estiveram soterrados impedidos de espreitar a superfície, mas refiro-me isso sim, às suas próprias vidas, desde tenra idade mergulhadas nas profundezas da Terra.
O líder continua impassível, falando calmamente, com ar de comandante; parece deslocado do grupo, um grupo que parece respirar mais depressa que todas as outras pessoas, com medo que o oxigénio se acabe, que tudo tenha sido um sonho e que, afinal, ainda estejam no escuro. Uns pedem a noiva em casamento sob a ribalta, outros são pais de bebés cujo destino parece ter sido alterado radicalmente face aos acontecimentos, outro mostra uma calma estranha, uma atitude inesperada, uma força que não se percebe de onde vem, um alhear do seu estatuto de herói.
Impressiona-me a atitude deste homem que pouco ou nada se emociona, que continua a liderar, que segura o fio-de-prumo com prudência e uma certa alienação.
Fala-se já, é claro, de fazerem um filme com a história, à imagem dos atletas perdidos no cume do mundo há décadas atrás. Que não se percam estes no cume da fama, depois de terem sido resgatados das entranhas da terra.
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