terça-feira, 20 de abril de 2010

Saúde Senhor…

Saúde Senhor…
Não me arrisco a dizer o nome pois posso enganar-me… Jota Ferreira ou Salvador Dali…? Que grande bigodaça e que ar de imortalidade aparece quando abrimos a página da internet com os teus quadros!
Não nego: fiquei agarrada ao primeiro, do lado esquerdo… para dizer a verdade, deve ser das poucas coisas que me faz ter um sentimento dúbio, para não dizer contraditório: as touradas. Vistas de longe… são actos bárbaros… ao perto, são momentos de emoção, de valentia, de coragem, de encontro entre um animal enorme e uma pessoa – normalmente um homem – que ali está em pé de igualdade, perante um dos bichos que mais admiro e que acho duma beleza extraordinária… um touro.
Não aprecio touradas à portuguesa, embora veja com alguma frequência… a minha irmã e o meu cunhado foram forcados e sou prima do que já foi o mais novo toureiro português, e que deixou a escola por incompatibilidade de horários com a escola normal…foi pena.
Gostei da tua apresentação na página da net e sensibilizou-me principalmente falares da tua avó! Ser mãe é ser-se abençoada, mas ser avó deve ser uma coisa inexplicável…é como ver realizar um sonho de criança, pois a boneca que alguém nos oferece, tem vida, mexe-se, surpreende-nos, faz aumentar o nosso amor de cada vez que está doente, ou nos dá uma alegria, cresce… ama-nos também… eu tenho um amor muito grande pelos meus avós e sempre que vou ao Alentejo, visito-os no cemitério. O meu filho acompanha-me e sem que eu algum dia lhe tivesse dito alguma coisa, beija as fotografias deles. Parece uma heresia, mas garanto-te que não é… eu rio-me sempre no cemitério, pois a minha avó escolheu o local para ser enterrada e fica mesmo a meio do cemitério, bem ao sol, que ela tanto adorava… e tenho lá uma tia que, por vezes, me acompanha nesta minha pequena peregrinação e diz sempre que o local foi mal escolhido, pois estão ali à torreira… farto-me de rir.
Compreendo a minha tia, mas compreendo melhor a escolha da minha avó.
Os meus avós foram pessoas muito importantes na minha vida e o meu avô, que aprendeu a ler em adulto, era das pessoas mais cultas e ajuizadas que conheci. A minha avó nunca aprendeu a ler, mas guardava livros como, por exemplo, uma velha edição do Grande Industrial, que nós lhe líamos e ela pedia para passarmos as passagens onde se falava doutra coisa que não fossem os dois romances paralelos que a história contém… morreu estava eu em Bruxelas e não assisti ao funeral. Ninguém me disse, pois estava grávida de cinco meses e não quiseram assustar-me, sabendo da ligação que eu tinha com ela. Soube na semana seguinte e, quase em simultâneo, morreu o meu cão, que me fazia companhia e era meu amigo e com quem eu diariamente falava e tinha uma secreta esperança que ele me respondesse… não te consigo explicar… e eu dei entrada no hospital com sintomas de aborto. Depois sonhava que o Pepe estava com os avós e com certeza estaria bem – até falava com eles o que nunca fizera comigo – e concentrei-me na enorme ervilha que tinha na barriga e em como um dia lhe iria contar quem tinham sido os meus avós.
Bem…peço imensa desculpa…desviei-me do assunto principal: os teus quadros. Não preciso de dizer que te invejo: tenho sempre inveja de quem faz coisas que eu seria incapaz de fazer e como tenho dois pintores na família, uma já com nome no mercado e também representada em várias colecções particulares… estou habituada a que brinquem comigo e me chamem ignorante com todas as letras. Numa ocasião, ela ganhou um prémio cá em Lisboa – vivem em Gaia – e convidou-nos para assistirmos à entrega do prémio, numa sessão solene, tipo comunhão… e nós lá fomos e ficámos ao lado do Rui, o marido dela. Nós simplesmente não sabíamos qual era o quadro da minha prima, pois havia vários premiados e eu olhei para uma tela negra com riscos dourados e disse ao Rui que aquele me metia medo e não gostava dele e, já imaginas, era o quadro dela, o que tinha ganho o primeiro prémio, foi uma vergonha. O meu marido aprecia pintura e por isso vamos a exposições. Eu, nem por isso… apenas me entusiasmei quando o meu filho tentou fazer uma cópia do Guernica, depois de ter visto o original em Madrid…será que o garoto vai ser um novo Picasso…? E então, foi como nos desenhos animados…os meus olhos transformaram-se em cifrões… desculpa, tenho que me rir…
Fica-te com as minhas gargalhadas e recebe um abraço
Camila

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