quinta-feira, 8 de abril de 2010

À saída do comboio

Diariamente encontro pessoas teimosas. Principalmente entre os meus companheiros de comboio e, embora não troque uma palavra com eles, sei que são teimosos. Ou serão apressados? Se forem apressados, são também teimosos. E burros.
As portas do comboio abrem-se mediante pressão num manípulo, ao contrário das do metro que abrem automaticamente. Ainda o comboio vem no túnel e já há quem prima os dedos no manípulo, como se o facto de fazerem muita força antecipasse a abertura das portas.
A verdade é que o comboio emite um sinal, a partir do qual se conseguem abrir as portas, mas ninguém parece ouvi-lo ou relacioná-lo com a abertura das portas.
Hoje contabilizei mais de 60 segundos entre o momento em que um rapazito na casa dos vinte, de óculos enormes, roupa escura e poupa na cabeça enleada de gel, punha o dedo no manípulo e o toque de abertura das portas... a energia que o pobre gastou desnecessariamente, para ali a fazer força, como se isso apressasse a porta, mas só aquela, pois ele devia ter mais pressa que os outros passageiros todos. Ou então era mais teimoso ou mais burro. Ou mais parvo.
Mediante estes comportamentos dá-me um gozo especial ficar mesmo ao pé da porta mas sem tocar no manípulo e observar a ansiedade dos demais e ler-lhes o pensamento: Esta parva não abre a porta, será que pensa que ela se abre sozinha?
E ali fico descontraidamente até dar o toque de saída. Já aconteceu uma vez um homem meter um braço pelo intervalo da chuva e tentar chegar ao manípulo, como se eu fosse uma retardada que não sabia que era preciso fazer força ali... olhei-o sem me mexer dando espaço aos seus pensamentos onde me chamava vários nomes feios.
Saio sempre a sorrir do comboio.

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