sexta-feira, 30 de abril de 2010

La Corunha, 31 de Maio de 2007

João
Sábado de manhã fui à praia. Já descalça e com os pés dentro de água, agarrei um bocado de tijolo e escrevi o teu nome seguido daquela palavra que não se pode dizer...
Depois atirei o tijolo ao mar. Não penses que a água do mar apagou rapidamente as letras que eu desenhei... primeiro porque eu não fiquei lá o tempo suficiente para ver as ondinhas de espuma apagarem as letras e depois porque elas não se vão apagar... vão entrar pelo mar adentro e permanecer lá para que possam servir de modelo e deixar que o pedaço de tijolo as volte as escrever, repetidamente, no fundo do mar, numa praia ali ao lado, numa outra lá do outro lado do mundo, ou em qualquer pedaço de areia cheio de gente ou inacessível, tão inacessível que só a força duma prova de amor lá chegará e que vai correr pelos oceanos, como eu gostaria de fazer e deixar marcas um pouco por todo o lado... para que quando eu um dia for a qualquer desses sítios, a areia já me conheça e me fale dum amor longínquo, nascido num jardim à beira mar plantado e cantado por um pedaço de tijolo em todas as praias deste mundo...
Se vires esta pessoa em quem eu tanto penso, diz-lhe que eu ando a fazer o mesmo na areia das praias, com o fumo dos cigarros, com a massa do esparguete, com a tinta das canetas, com os pingos da chuva, com as notas de música, com as nuvens do céu, com as marcas das botas, com as pontas dos dedos nos vidros embaciados, com as lágrimas que me escorrem pela cara, com os rodados dos pneus em estradas secundárias, com os raios de sol nas águas de qualquer mar ou rio, e que me sinto contente e feliz como uma criança em dia de Natal…
Camila

Sem comentários:

Enviar um comentário