Os deuses acharam que me diverti demais ontem à tarde e quando cheguei ao carro a bateria tinha-se ressentido do alarme ter estado horas a tocar, de modo que não funcionou. Como já era tarde, chovia e estava cansada, aceitei a boleia até à porta de casa e só hoje de manhã, bem cedo, é que liguei ao seguro.
Fiz o telefonema ainda em casa, informei onde estava o carro e caminhei até lá devagar, coisa que, em dia de semana, é raro ter ocasião para fazer. A meio do caminho o telefone tocou e eu parei para atender: era o homem do reboque a querer saber exactamente onde estava o carro. Enquanto dava a explicação, parada, vi que à minha volta havia um bando de pombos e que eu estava precisamente no meio, em cima, no centro da sua refeição. Acudiu-me logo à ideia alguém em pé na minha mesa da cozinha onde almoço e janto...
Dezenas de pedacinhos de pão – bocados de pão para os pombos, pedacinhos para mim, migalhas para o Gulliver ou para o Adamastor– tinham sido atirados, suponho eu, duma qualquer janela para alimentar as aves cinzentas – e feias, acho eu, sem que elas tenham culpa, mas sem que essa inocência lhes dê beleza. E eu ali parada a assistir à refeição que decorria à minha volta, quando ouço:
- Tem medo dos pombos? Eu enxoto-os!
E antes que eu pudesse responder, o bom samaritano enxotou-os dando pontapés no ar. Respondi que não tinha medo apenas tinha ficado parada a observá-los, pois estavam a comer. O homem grunhiu um ah e foi embora, talvez pensando que eu devia consultar um médico, conclusão a que cheguei através da cara dele que, de certeza, mentalmente, me arranjou várias ocupações úteis que bem podiam substituir o ver pombos a comer no meio da rua.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
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