O meu amigo V., pessoa avisada e atenta, recomenda-me ler Manguel, o último Manguel, ainda não traduzido para português, mas disponível em inglês. Para meu êxtase remete-me para uma caverna da internet onde fez umas digitalizações de algumas páginas. Soberbas as páginas, as palavras, soberbo o gesto dele, que me sabe atarefada e receia que deixe escapar este Manguel ou que saiba da sua existência tardiamente.
Poucos me dão estas prendas. Muitos, quase todos, não me dão nada e quando me dão é na perspectiva da doação a uma biblioteca, da qual se lembram quando querem fazer arrumações e limpezas e despejam o lixo na biblioteca que mais jeitinho lhes der, com ar de quem está a oferecer o Santo Graal. Pensarão estas pessoas que quem trabalha nas bibliotecas acredita nelas? Que lata!
Um Manguel para mim é um saco de água quente no pino do Inverno dentro da nossa caminha. É maravilhoso. Alguns autores fazem-me viajar mas este faz-me entrar ainda mais dentro de mim. É como se me reciclasse.
A maioria das pessoas que eu gostava de conhecer está morta. Tive o enorme privilégio de estar com José Mindlin, o que não se poderá repetir, pois também já morreu. Mas Manguel está vivo e não perco a esperança de o ver, de poder falar com ele. Ele é como eu imagino ser um escritor, com rasto em vários países, não em visita, mas por vivência, um cidadão, aliás, vários cidadãos, todos aqueles que em nós cabem e que são muitos.
Todos os homens são mentirosos, de 2008, foi editado este ano em português, logo A Reader on Reading, lá para 2012 será agarrado por uma editora e então traduzido. O facto de as coisas existirem mas não nos estarem acessíveis dá que pensar. É como termos chocolates em caixas de camisas e pensarmos que são bichos-da-seda.
Manguel como escritor não devia ser acessível, devia ser inato. Aquilo que li em Reader on Reading é uma fórmula matemática, incontestável, para mim leitora e promotora da leitura.
Obrigada V.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
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