Vivo no 4º e último andar dum prédio com elevador. Os meus vizinhos nunca, mas nunca mesmo se dignam chamar o elevador se percebem que vem de cima com pessoas lá dentro. E eu pergunto, porquê?
Ouço-os na escada, vou dentro do elevador e vejo os seus perfis através do vidro enquanto desço mas eles, sabendo que vem alguém, não mandam parar, preferindo esperar para o chamar novamente.
Este comportamento de bicho-do-mato obriga a gastar muita energia, como qualquer pessoa percebe e corta radicalmente qualquer conhecimento entre pessoas que vivem a dois metros de distância, mas que tudo fazem para não se verem. Eu não quero ser visita lá de casa nem que eles sejam da minha – cruzes, canhoto! – mas o mínimo da sociabilidade nunca fez mal a alguém, para não dizer que há mínimos de níveis de educação que deviam ser respeitados.
Quando se juntam duas pessoas à entrada do elevador no rés-do-chão a situação é diferente pois ninguém consegue evitar não subir juntamente com a vizinhança. Por norma a viagem faz-se em silêncio e de costas. Como sou sempre a última pois moro no andar mais acima ouço uns rosnares que tento decifrar como boa noite ou boa tarde, como for o caso, e respondo alto e bom som como se fossem velhos, senis e moucos:
- BOA TARDE PARA SI TAMBÉM.
Ou então:
- UMA MUITO BOA NOITE VIZINHO.
Normalmente assusto-os porque não estão à espera do elevar de voz, ainda por cima num espaço tão pequeno onde a minha voz ressoa e parece até fazer eco e eu divirto-me com esta pequena brincadeira.
Outra modalidade passa por, com voz normal e um enorme sorriso, começar uma lengalenga, deixando-os sem saber o que fazer ou dizer: se retribuírem, se deixarem a porta fechar, se segurarem na porta enquanto falo:
- Uma noite descansada para si vizinho e para todos lá em casa, até amanhã, se Deus quiser, ou quando nos voltarmos a encontrar.
Irrita-me que lhes custe cumprimentar as pessoas, com civilidade, que lhes custe fazerem sair da boca um simples e modesto bom dia.
Bem sei que o conceito de vizinho há muito que se perdeu nesta sociedade actual da pressa e da rapidez, mas a educação, que é feito dela?
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