terça-feira, 28 de setembro de 2010

Portugueses no mundo

Tenho acompanhado os programas da RTP sobre os portugueses no estrangeiro, os novos emigrantes, tão distantes das vagas que há décadas se instalaram em França, na Alemanha e na Suice, nome dado à Suíça pelos emigrantes da terra dos meus pais.

São pessoas novas que cedo procuram novas oportunidades em áreas das suas preferências, é gente que fala a língua do país escolhido, que tem uma vida social intensa cruzada com gente da terra, que frequenta os mesmos cafés e supermercados, que tem amigos naturais dos países eleitos e vai a concertos de música, que ocupa lugares profissionais de destaque. Em todos estes aspectos em nada coincidem com os emigrantes indiferenciados que apenas falavam português e mal, que viviam em guetos e se acomodavam apenas com conterrâneos, criando espaços fechados de comunicação, com dificuldades de alimentação e recorrendo sempre aos pratos portugueses, apesar de se evidenciarem como bons trabalhadores, em termos gerais.
Na Austrália faz-se surf, em Nova Iorque visita-se o Metropolitan e em Berlim fazem-se passeios no Checkpoint Charlie. Não se distinguem dos nativos, num fenómeno com características globais, entrosam-se na perfeição.
Vão sozinhos ou com a família, têm filhos que falam, pelo menos, duas línguas. São emigrantes com vida própria, que se deslocam de avião com passaporte, ao contrário dos seus antepassados que passavam a fronteira a salto, escondendo-se como criminosos que os queriam fazer parecer ser. São pessoas realizadas. Não sabem se vão voltar a Portugal e não têm casas com azulejos espalhadas pelas aldeias, com telhados inclinados por serem cópia das casas dos locais de emigração, onde a arquitectura prevê os nevões, inexistentes em Portugal. Usam o dinheiro que ganham em si próprios essencialmente. São cidadãos do mundo, nascidos em Portugal.
Têm o apoio das tecnologias para comunicarem com a família e não escrevem cartas com selos esquisitos que demoravam semanas a chegar e eram lidas com mãos trémulas e olhos lacrimejantes, quantas vezes por um estranho, pois os que ficavam muitas vezes não sabiam ler e dependiam de outrem para se alimentarem de notícias da França. Estes novos emigrantes viajam, praticam desporto e confraternizam.
De uns dizia-se coitado, teve que emigrar, destes afirma-se com inveja que emigrou. São sorridentes e, embora falem das famílias, não têm a palavra saudade escrita na testa. As distâncias hoje são menores, as idas para o estrangeiro são projectos de vida e não alternativas únicas, como eram antigamente.
Quem avance até à Universidade tem, cada vez mais, a hipótese de se inscrever no Programa Erasmus e começa a vida de emigrante ainda estudante. A perspectiva de viver num local diferente, com tudo o que isso implica, começa a criar um vício de sair cada vez mais, de experimentar outras realidades, de se relacionar com outras culturas, de conhecer outras e novas pessoas. A partir daí, e com as dinâmicas de vida dos jovens dos dias de hoje, ir viver para o estrangeiro deixou de ser aquele abismo que era há anos atrás, de distância, de falta de notícias, de invisibilidade. Começa a ser um hábito para o qual as férias no estrangeiro também contribuem.
O meu amigo V. vive na Noruega, é casado com uma cidadã brasileira que vive no Brasil, e os pais vivem em Portugal. É o protótipo de cidadão do mundo, anda sempre a correr o planeta, e a confluência das suas viagens, das suas existências, das suas deslocações, e da sua natureza também, fazem dele uma pessoa riquíssima, talvez a mais rica que eu conheço. Só o facto de falar e ler em várias línguas não tem preço! A perspectiva que uma pessoa assim tem do mundo e das coisas em geral é mais completa, mais conseguida. Não olha para o umbigo e não o admira como uma das maravilhas do mundo, mas antes está sempre atento a qualquer maravilha que de repente se plante diante dos seus olhos e as possibilidades disso acontecer são elevadas.
Durante anos quis emigrar e experimentar o que era viver noutro país mas o meu marido nunca se dispôs a isso. Hoje aconselho o meu filho, vivamente, a estudar no estrangeiro, a abrir novas portas. Antigamente as pessoas emigravam porque todas as portas se lhes fechavam, hoje a emigração pode consubstanciar a sua abertura, a vários e diferentes níveis, por opção.
Como sou de não perder a esperança, nunca, continuo a sonhar que um dia farei o mesmo, mas se só for de visita ao meu filho, já me dou por contente.

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