Tenho acompanhado os programas da RTP sobre os portugueses no estrangeiro, os novos emigrantes, tão distantes das vagas que há décadas se instalaram em França, na Alemanha e na Suice, nome dado à Suíça pelos emigrantes da terra dos meus pais.
São pessoas novas que cedo procuram novas oportunidades em áreas das suas preferências, é gente que fala a língua do país escolhido, que tem uma vida social intensa cruzada com gente da terra, que frequenta os mesmos cafés e supermercados, que tem amigos naturais dos países eleitos e vai a concertos de música, que ocupa lugares profissionais de destaque. Em todos estes aspectos em nada coincidem com os emigrantes indiferenciados que apenas falavam português e mal, que viviam em guetos e se acomodavam apenas com conterrâneos, criando espaços fechados de comunicação, com dificuldades de alimentação e recorrendo sempre aos pratos portugueses, apesar de se evidenciarem como bons trabalhadores, em termos gerais.
Na Austrália faz-se surf, em Nova Iorque visita-se o Metropolitan e em Berlim fazem-se passeios no Checkpoint Charlie. Não se distinguem dos nativos, num fenómeno com características globais, entrosam-se na perfeição.
Vão sozinhos ou com a família, têm filhos que falam, pelo menos, duas línguas. São emigrantes com vida própria, que se deslocam de avião com passaporte, ao contrário dos seus antepassados que passavam a fronteira a salto, escondendo-se como criminosos que os queriam fazer parecer ser. São pessoas realizadas. Não sabem se vão voltar a Portugal e não têm casas com azulejos espalhadas pelas aldeias, com telhados inclinados por serem cópia das casas dos locais de emigração, onde a arquitectura prevê os nevões, inexistentes em Portugal. Usam o dinheiro que ganham em si próprios essencialmente. São cidadãos do mundo, nascidos em Portugal.
Têm o apoio das tecnologias para comunicarem com a família e não escrevem cartas com selos esquisitos que demoravam semanas a chegar e eram lidas com mãos trémulas e olhos lacrimejantes, quantas vezes por um estranho, pois os que ficavam muitas vezes não sabiam ler e dependiam de outrem para se alimentarem de notícias da França. Estes novos emigrantes viajam, praticam desporto e confraternizam.
De uns dizia-se coitado, teve que emigrar, destes afirma-se com inveja que emigrou. São sorridentes e, embora falem das famílias, não têm a palavra saudade escrita na testa. As distâncias hoje são menores, as idas para o estrangeiro são projectos de vida e não alternativas únicas, como eram antigamente.
Quem avance até à Universidade tem, cada vez mais, a hipótese de se inscrever no Programa Erasmus e começa a vida de emigrante ainda estudante. A perspectiva de viver num local diferente, com tudo o que isso implica, começa a criar um vício de sair cada vez mais, de experimentar outras realidades, de se relacionar com outras culturas, de conhecer outras e novas pessoas. A partir daí, e com as dinâmicas de vida dos jovens dos dias de hoje, ir viver para o estrangeiro deixou de ser aquele abismo que era há anos atrás, de distância, de falta de notícias, de invisibilidade. Começa a ser um hábito para o qual as férias no estrangeiro também contribuem.
O meu amigo V. vive na Noruega, é casado com uma cidadã brasileira que vive no Brasil, e os pais vivem em Portugal. É o protótipo de cidadão do mundo, anda sempre a correr o planeta, e a confluência das suas viagens, das suas existências, das suas deslocações, e da sua natureza também, fazem dele uma pessoa riquíssima, talvez a mais rica que eu conheço. Só o facto de falar e ler em várias línguas não tem preço! A perspectiva que uma pessoa assim tem do mundo e das coisas em geral é mais completa, mais conseguida. Não olha para o umbigo e não o admira como uma das maravilhas do mundo, mas antes está sempre atento a qualquer maravilha que de repente se plante diante dos seus olhos e as possibilidades disso acontecer são elevadas.
Durante anos quis emigrar e experimentar o que era viver noutro país mas o meu marido nunca se dispôs a isso. Hoje aconselho o meu filho, vivamente, a estudar no estrangeiro, a abrir novas portas. Antigamente as pessoas emigravam porque todas as portas se lhes fechavam, hoje a emigração pode consubstanciar a sua abertura, a vários e diferentes níveis, por opção.
Como sou de não perder a esperança, nunca, continuo a sonhar que um dia farei o mesmo, mas se só for de visita ao meu filho, já me dou por contente.
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