Se o Outono ainda não chegou deve estar mesmo aí a rebentar. Não sei bem, porque estamos de costas voltadas, estou amuada. Fico sempre amuada neste dia, o dia em que o Verão nos abandona, o primeiro em que lhe sinto a falta, o dia em que acordo e ele já cá não está, como um amante que foge a meio da noite e está meses sem dar sinal de vida.
O Outono é uma estação cobarde, dá-nos ainda uma esperança de calor mas na verdade empurra-nos para o Inverno, como um carcereiro que sorri ao prisioneiro e a seguir bate com a porta da cela, fechando-a.
Sinto o Outono a rir-se de mim do lado de lá da grade, a rir-se da minha esperança tola e vã que o Verão ficasse comigo sempre, que não me abandonasse, sinto-o a apontar o Verão como o verdadeiro cobarde, que abandona quem tanto o ama, quem tanto se lhe entrega, quem o venera.
Dizem que o Outono é belo, mas bem sei que a beleza é subjectiva e eu própria não forço alguém a gostar do Verão! Outono é sinónimo de castanho, de folhas no chão que rugem baixinho debaixo dos nossos pés, é tempo dos cachecóis saírem dos armários, dos casacos se começarem a desempoeirar, dos sapatos fechados voltarem à ribalta. É tempo de luz quebrada, que não dói e cuja intensidade não obriga a fechar os olhos, podendo ser melhor absorvida. O Outono despe a natureza e veste-nos a nós, ora se isto não é contra natura, não sei o que seja!
O Inverno não se mascara, mostra-se como é, frio e húmido como uma gruta, mas o Outono não, faz-me andar inconstante, cria depressões, definitivamente não é meu. E eu não sou dele.
Felizes os que se dão bem nesta estação de olhar semicerrado, enganadora, que goza deliberadamente comigo, que nos quer seduzir e nos leva embalados para, de repente, percebermos que estamos no Inverno. Mas eu conheço-a e não a deixo ludibriar-me; ficarei aqui à espera dele, sei que virá, vem sempre, volta sempre, o meu Verão não morre. O ano passado pisquei-lhe o olho e fui ter com ele à América do Sul às portas da passagem do testemunho do Outono ao Inverno! Enganei-os bem! Pode ser que este ano repita a façanha, que o mesmo é dizer ganhar um alento que nenhuma caixa de vitaminas consegue dar-me.
Assim, começa hoje oficialmente o meu período de pré-hibernação, de defeso!
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