segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O mês que não se diz

Reza a lenda que os naturais de Santo Aleixo da Restauração têm um mês de atraso. O meu pai, natural desta aldeia no Baixo Alentejo, não acha graça ao dito e apressa-se em explicar a razão: Abril sempre foi um mês instável, ora de muita chuva ora de Verão antecipado que dava cabo das colheitas e da esperança das pessoas. Assim, na sequência de vários infelizes meses de Abril, os populares começaram a evitar dizer o nome do mês que lhes estragava a vida, como hoje os alunos de Hogwarts não dizem o nome d’Aquele-Cujo-Nome-Não-Deve-Ser-Pronunciado. Assim, enumeravam-se os meses da seguinte forma: Janeiro, Fevereiro, Março, o mês que não se diz, Maio, e por aí fora. Ora o 25 de Abril calhou a calhar em Abril o que trouxe um inconveniente ao pessoal de Santo Aleixo que não teve outro remédio se não chamar os bois pelos nomes!
Hoje ouço na rádio a notícia que um qualquer investigador determinou que o dia 24 de Janeiro é o dia mais deprimente do ano!
A primeira reacção é perguntar-me quem é ele para determinar assim estas coisas? Depois concluo que, para mim, até tem razão, e mais, Janeiro, é todo ele um mês para esquecer: notícias tristes e mortes estúpidas na família parecem esperar atrás da porta da vida para se fazerem anunciar no primeiro mês do ano.
Qualquer um podia passar por cima deste dia, que é só um, escrever a data o menor número de vezes possível, ignorar o dia, se possível passá-lo a dormir, mas eu faço anos hoje e às 11 da manhã já atendi vários telefonemas a lembrarem-me o dia que deve ser comemorado! Saberão eles que é o dia mais deprimente do ano?
Para mim nunca o foi apesar das tristezas inerentes a acontecimentos dramáticos que marcaram o dia, como o funeral do Tó ou a morte do Chico, mas a partir de agora será e só não sei durante quanto tempo me lembrarei que é deprimente ou até que faço anos.

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