segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Eleições sem votos

O Presidente da Junta de Freguesia da residência dos meus pais confunde o meu pai com alguém e cada vez que se encontram fala-lhe como se ele fosse um Governador Civil ou exercesse qualquer cargo do género. O meu pai acha graça a tanto salamaleque e como o outro o cumprimenta sem mencionar qualquer nome, ele vai deixando a coisa arrastar-se.
Pouco antes do Natal encontraram-se numa peça de teatro onde os meus pais chegaram em cima da hora. O presidente da Junta assim que o viu, levantou-se e rearranjou a plateia de modo a que os meus pais ficassem em lugar de eleição. Como são ambos já de idade ninguém reclama, antes pelo contrário, todos sorriem e os ajudam.
Ontem na mesa de voto informaram os meus pais que não podiam votar pois os números não constavam das listas e disseram-lhes que ligassem para o Ministério da Administração Interna a fim de saberem onde deviam votar ou então que procurassem na internet. O vetusto ar do meu pai informou que não iria telefonar para sítio algum, que não sabia procurar na internet, que estava frio a mais da conta para dois velhotes andarem a fazer pingue-pongue entre o quentinho da sua casa e a mesa de voto, que estava ali para votar e que alguém, fizessem o favor, resolvesse a questão.
Ora, quem é que por ali andava? O Presidente da Junta! Assim que o viu disponibilizou-se logo para ser ele a ligar para o MAI, o que fez e em 10 minutos tratou do assunto, por entre desculpas, pedindo-lhes que fossem a outro lugar, que a partir de agora seria lá que votavam. Lá se deslocaram a uma escola secundária que, por feliz coincidência, fica mais perto da casa deles e finalmente exerceram o seu direito de voto.
À noite quando visitei os meus pais vimos na televisão a notícia que os problemas com os números de eleitor tinham abrangido o país em geral; a notícia era dada em rodapé e secundada por uma outra onde se falava em eleições na Tunísia, tendo o meu pai aproveitado para meter uma piada:
- Olha, olha! Na Tunísia também não puderam votar!
Ao que a minha mãe respondeu de imediato:
- Claro que não! Então não ouviste dizer que o problema era por todo o lado?

1 comentário:

  1. com tantos salamaleques e inovações, houve muita gente que ficou de fora, sem poder manifestar o seu direito! amiga, em tempos estudei na FDL, o sonho era mesmo esse, seguir Direito para "politicar" em Angola, no primeiro ano conheci o Marcelo entre outros "manda-chuvas" daquela casa árdua. Hoje amiga, hoje percebo que política é coisa que não quero,mas, gostaria de um dia poder contribuir para o desenvolvimento desse país que me viu dar à luz os meus dias...


    um beijo muito, muito graaaande mesmo,
    grato pelos afectos e presenças!

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