quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Dias de nevoeiro

Para além de ser uma palavra bonita – nevoeiro – a sua menção ou lembrança levam-me numa viagem no tempo até aos idos de 70 e aos corredores cinzentos da Escola Visconde de Juromenha, hoje uma EB 2+3, onde andei 5 anos. A proximidade da serra de Sintra (eu gosto de pensar que era por isso…) trazia uns nevoeiros tão densos que não nos víamos dum lado ao outro dos corredores. Dias de nevoeiro eram dias de brincar às escondidas e de… namorar! Quando a nuvem densa e opaca descia a abraçava a escola havia mais faltas que em dias de sol que pediam praia ou em momentos de jogos com outras escolas que, por vezes, se realizavam em horário de aulas.
Ao abrigo do nevoeiro eram dados beijos inflamados, abraços memoráveis e feitas juras de amor eterno, a maior parte delas, esquecidas assim que o sol voltava a brilhar.
As janelas da escola pareciam ter sido feitas para garantir uma certa cumplicidade pois eram metidas para dentro da parede, como que escondidas, e da altura ideal para um se sentar e o outro se encostar, como quem se entrega com confiança.
Quantas mãos exploraram a anatomia humana pela primeira vez, sentadas nas reentrâncias das janelas e com a bênção dum dia de nevoeiro? Nesses dias nem se procurava a pacatez das traseiras do ginásio da escola, para quê?, se o nevoeiro estava do nosso lado?
Já casada, uma das sensações mais estranhas que já experimentei foi também com o nevoeiro como protagonista: em Vila Nova de Cerveira, depois de metermos os pés no rio Minho, fomos a um ponto alto, cujo nome não me lembra. De repente, o nevoeiro abateu-se sobre nós, de tal forma que esticávamos os braços fora da janela do carro e não se viam as mãos. Ficámos parados dentro do carro, com luzes e piscas acesos, esperando que ninguém se atrevesse a andar por ali, caso contrário pararia só quando nos batesse. Ao fim duns longuíssimos vinte minutos, o nevoeiro amainou e continuamos a marcha, ainda com a imagem do que se vê, sente-se, mas não se agarra para se afastar, como se tivéssemos estado vinte minutos noutra dimensão onde a qualquer momento pudesse aparecer o Merlin, a Morgana ou o próprio D. Sebastião.
Mas nevoeiro é, antes de tudo, sinónimo de Visconde de Juromenha, de vida fácil e descontraída da adolescência, de sonhos por realizar, mas com certezas absolutas que um dia seriam realidade. No fundo, certezas de nevoeiro, que se desfazem.

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