Nas escolas comentam-se textos de autores ditos clássicos ou, pelos menos quando lá andei, era o que se fazia na disciplina de Português que hoje se chama Língua Portuguesa. Era preciso saber o que queriam dizer, interpretá-los (?), lê-los às avessas, comentá-los, ou seja, à força haviam de entrar em nós e continua-se a não se procurar maneiras de nos fazer entrar neles. Fazer os autores entrar em nós! Como se fossem comida! Lembra-me uma passagem do Crime do Padre Amaro quando uma beata se confessou com um problema capital: ao dizer, penso que, a Avé Maria vinha-lhe um escarro à boca. Ora, se o deitasse fora estava a cuspir o nome de Nossa Senhora, se o engolisse o sagrado nome ia-lhe parar aos intestinos que, como toda a gente sabe, é local pouco próprio para divindades. Como a compreendo! A questão é entrarmos nós, não fazermos entrar qualquer um, Deus nos livre e guarde, dentro de nós. Ora esta!
Como cumprimento de cidadania não devíamos só votar, devíamos também entrar no universo de certos autores. Porém e contudo e todavia e mormente e sei lá há coisas que não são para serem comentadas e interpretadas muito menos. São para serem apreciadas, como um mergulho, é deixá-lo vir e sentir. Usufruir do privilégio daquela leitura. Abençoar quem assim nos proporcionou aquele prazer.
Tanta arma e tanto barão assinalado em praias lusitanas e não só dão-me gozo ler e reler e interiorizar e sentir. Acima de tudo sentir.
Todo este palavreado serve para dizer que há locais onde me é fácil escrever e outros onde me sinto um animalzinho a contemplar as neves eternas do Kilimajaro, um pouco a mistura do burro que olha o palácio e o sudra, a casta mais baixa da Índia, a olhar sonhador o Taj Mahal. Ou seja, há sítios onde a caixa dos comentários me é inútil por não saber, não poder utilizá-la. Por não precisar de a utilizar porque o que leio me basta, me enche e preenche. São textos estrela porque têm um centro e várias pontas que me indicam outros caminhos, são em prosa cantada, em verso técnico, fotográficas e gramaticais, imaginosas e actuais. São os teus textos.
Obrigada senhora funcionária pública.
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