Uma das coisas que a moda dita são os nomes das pessoas. Quando era adolescente havia na minha turma meia dúzia de Cristinas, Paulas e Paulos e a Madalena e o Eurico eram gozados por terem nomes esquisitos. Com as telenovelas vieram os Fábios, com a ginástica chegaram as Nádias, com a música os Marcos Paulos, depois apareceram as Vanessas, as Cátias e até as Cátias Vanessas. Pelo meio fica uma profusão de outros nomes que são tão bons como outros quaisquer, pena é que venham como as cheias, que inundam e deixam marca.
Há nomes lindos e outros horríveis mas não há consonância na opinião e ainda bem, cada um gosta do que gosta.
Durante algum tempo os Antónios estiveram em vias de extinção, tal como os Joaquins, os Josés ou os Manuéis com raras excepções para os que queriam manter longas listas de gerações com nomes iguais, vontade talvez proveniente de algum espírito aristocrático ou monárquico, chame-se-lhe o que se queira, com pena de não poderem incluir um primeiro, segundo e por aí fora, conferindo um ar real ao nome do petiz.
Se as Marias Josés conseguiram vingar no tempo, já os Josés Marias, ou qualquer outro Maria como segundo nome dum rapaz deixou de ter graça perante ofertas como Rúben, Flávio, Dário, Igor, Márcio, ou Ivo, entre outros. *Hoje qualquer mãezinha que se preze coloca Maria como segundo nome do seu filho, escolhendo para primeiro João, Manuel, José, Francisco ou Joaquim, e se o tratar por você será o máximo pois tem imensas hipóteses de ser confundida com uma pessoa fina. As mesmas mães sonham casá-los com Madalenas, Marianas, Matildes, Carolinas, cujos irmãos respondem pelo nome de Tomás, Santiago, Marcelo, Martim, Gonçalo, Valentim, Salvador ou Rafael.
Sem que alguém saiba porquê, verdadeiro mistério, muitos progenitores desde há meia dúzia de anos descobriram também a pérola de nome Cristiano e há quem consiga chutar em todas as direcções e registe a criança como Cristiano Maria! Isto devia ser patenteado!
Há nomes que nos fazem rir, como um antigo apaixonado pela minha mãe que se chama(va) Feliciano Rufas, curiosa e cómica junção de duas palavras; há nomes que nos deixam enojados como Maria da Expectoração, uma senhora que conheci numa viagem de comboio e em cujo nome só acreditei quando ela se dispôs a mostrar a identificação; há nomes que nos deixam incrédulos como Maria Aristotelina, que devia ter um paizinho grego; há nomes que são nítidos enganos e apropriação de diminutivos, ou assim quero crer, no caso da Maria Sanita, que nunca conheci mas da qual cheguei a ver o bilhete de identidade, e penso que provém do facto de a uma Conceição alguém teimar em chamar Sãozinha e daí a Sanita foi um passo, e como os registos eram feitos quando calhava, olha, calhou assim. E ninguém goza com o Albano Jerónimo porque teve a sorte de ter um corpinho e uma cara encomendados no melhor dos dias, que fazem com que seja, em linguagem popular desculpem lá, um pão!
Onde andarão as Isauras ou as Ivones? Os Abílios e os Adéritos? Os Amadeus e os Amílcares? Os simples Carlos? Já nem falo dos Humbertos nem dos Custódios. Os Mários, os Eduardos, os Emídios, as Elviras, as Glórias, as Dulces, que é feito deles?
Alguém conhecerá a importância de se chamar Ernesto?
*A partir daqui a até ao próximo espaçamento deve ler-se com uma inflexão na voz que imite (se não imitar e for genuína, tanto melhor) uma voz afectada, de bem.
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