Cem anos que eu viva nunca me vou habituar a chamar-te Sónia. Por vezes as pessoas têm nomes que não são delas, como uma carta que foi parar à nossa caixa do correio por engano e que, não tendo remetente, acaba por não ser devolvida. Para além dos nomes também acontece o mesmo com as pessoas: há erros de vida fatais e ficamos primos dum bronco qualquer para sempre! E há pessoas que sentimos conhecer desde o início da eternidade mesmo que não troquemos assim tantas palavras com elas, e para com quem sentimos uma ternura fácil, inata, simples mas profunda.
A tua vitalidade e energia são contagiantes e tiveram a capacidade de me fixar em ti desde que te conheço e mesmo quando te tratava por você. A simplicidade que pões em tudo, a franqueza com que falas e te manifestas são-me gratas e especiais.
Lembro-me duma ocasião em que um vendaval levou a roupa do nosso estendal e o meu filho perdeu assim uma camisola da Académica com a qual tinhas recomendado o maior cuidado. Disse-te e pedi desculpa por uma coisa da qual não tinha culpa e respondeste-me com um sorriso malandro que ias ter uma conversa com esse vento!
Embora não esqueça nunca os motivos iniciais da presença mútua na vida uma na outra, e te agradeça penhoradamente pelos conselhos, pelas conversas, por tudo em relação ao Duarte, há muito tempo que já não é só isso que mantém a ligação e fico feliz por assim ser. Fico feliz por falarmos de ti lá em casa como alguém que poderia com facilidade ter a chave e entrar a qualquer momento sem pedir autorização. Fico feliz com os teus sucessos. Fico feliz com o teu aniversário. Parabéns!
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