O mau tempo que se tem feito sentir na Europa fez mudar um adágio popular e já não se diz Depois da tempestade vem a bonança e sim Depois da tempestade vêm as malas por entregar!
O aeroporto Charles de Gaulle tem 25 mil malas nesta situação. Vinte e cinco mil. Um mais um mais um mais um mais milhares. Os passageiros lá se foram encafuando em aviões e avionetas e balões de ar quente e parapentes mas, como num puzzle para adultos feito por uma criança pequena ou como quando o meu ex-marido arranjava máquinas de lavar, sobraram peças, neste caso as malas de viagem.
A lua-de-mel da minha irmã foi passada no centro da Europa sendo o primeiro destino a Áustria. Ora eles foram mas as maletas ficaram em Lisboa fruto dum engano da senhorita que lhes fez o check in. Quando aterraram e viram que estavam sozinhos sem o apoio confortável das escovas de dentes, das meias e cuecas telefonaram-me em pranto pedindo ajuda para reaver a preciosa maleta. Fui ao aeroporto da Portela tentar encontrar a bagagem e mandá-la ter com os donos. Foi nessa altura que me senti uma personagem, esquecida e não filmada, da última cena do filme Indiana Jones e a Arca Perdida, quando o caixote com a arca lá dentro foi depositado num imenso armazém onde estavam milhares e milhares de outros caixotes, de feitios e tamanhos diversos. Os perdidos e achados do aeroporto da Portela são assim: um amontoado de malas de todas as cores e tamanhos, pranchas de surf, malas de mão de senhora, carrinhos de bebé, pagaias e canoas, canas de pesca e skys, sacos de golfe, sacos de plástico, sacos de pele, enfim, um mundo insuspeito e gigantesco de bens que muitos alguéns deixaram em Lisboa.
Mas estava tudo organizado, arrumado por tamanhos e cores e não foi difícil dar com a mala. Disse o código, a senhora marcou-o e a mala abriu-se diante dos meus ufanos olhos, prova que eu sabia do que falava! Lá se mandou a maleta que chegou ao destino sem mais demoras.
Agora 25 mil maletas assim, caídas do céu, literalmente pois muitas foram fruto de ligações anteriores, e havendo a necessidade de as mandar outra vez ao ar, não é fácil e não gostava de estar na pele dos funcionários que agora têm que se armar em carteiros do céu e devolver à procedência ou aos lugares onde estão os donos, tanta mala e tanto objecto. Imagino a confusão, o desespero dos proprietários, quanta prenda de Natal não entregue, quanto chocolate derretido, quando vinho entornado, quantas couves, se eram portugueses, podres e a cheirarem mal.
Estou solidária convosco, amigos funcionários da secção de entrega e devolução de malas perdidas, esquecidas ou simplesmente abandonadas em qualquer aeroporto do mundo e sei que a confusão é já muita mas, e isto é só uma ideia, o que aconteceria se as 25 mil malas fossem distribuídas simplesmente só com o critério do primeiro avião a sair…? Ok, está bem, isto é terrorismo, peço desculpa. Mas lá que era cómico, ah, isso era!
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