segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ruiz Záfon, o lânguido!

Li A Sombra do Vento há vários anos na língua original. Chegou-me através dum amigo a quem lhe foi oferecido por uma amiga espanhola com dedicatória que não podia pisar o tapete da entrada, caso contrário a esposa não se mostraria nada lânguida.
Se lángido, languidez ou qualquer parente verbal são mais ou menos fluidos em castelhano, já o mesmo não se pode dizer em português, cuja utilização não é vulgar. Voltei a A Sombra do Vento depois de ler O Jogo do Anjo, desta feita em português, e constato que nunca tinha lido tanta vez lânguido, languescer, languesciam e toda a qualidade e feitio de seus familiares, como se houvesse para além daquela trama, uma outra, em forma de árvore genealógica do verbo languescer, enterrada no meio da descrição.
Agora que agarro em Marina, na sétima linha do primeiro capítulo aparece-me logo um rapaz a languescer! José Teixeira de Aguilar e Maria do Carmo Abreu, os tradutores de A Sombra do Vento e de Marina, facilitam e não o deviam fazer.
Estes pormenores fazem-me perder a vontade, tal como as gralhas que me gralham a vista, transformada em cinco sentidos quando leio, que o mesmo é dizer, quando coloco uma placa de Não Incomodar a toda a minha volta, aparentando-me com o reflexo dum néon que não pode ser tocado pois, para além de outras coisas, pode dar choque.
Admiro a Dom Quixote, entre outras, mas é destas pequenas coisas que é feita uma Editora que produz para leitores e não para consumidores obrigatórios, como a Porto Editora, ou ocasionais, como qualquer uma.

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