Conhecia esta figura de ouvir falar. Quando o meu filho foi jogar para o Belenenses passei a vê-lo e a retribuir-lhe o aceno ocasionalmente. Na televisão ouvi-o dizer que dizia adeus a toda a gente para afastar uma senhora muito má, a solidão. Ouvi-o também dizer que gostava da Nicole Kidman, o que não é difícil. Não sei porque fixei este pormenor, mas ele está cá.
Num mundo onde não conhecemos o vizinho do lado, onde poucos se dignam dar bons dias, como se fossem diamantes que querem guardar, é estranho vermos alguém que esbanja adeuses com desconhecidos, ainda por cima com pouca probabilidade de resposta face à velocidade a que passam dentro dos carros.
O Senhor do Adeus, João Serra de seu nome, era daquelas pessoas que parecem acumular várias vidas e que se se sentasse a descrevê-las teriam que ser organizados turnos de ouvintes. Calcula-se-lhe, pelo olhar algo maroto, algumas peripécias, todas decerto invejáveis.
No blog O Senhor do Adeus, onde ele dava voz aos olhares sobre os filmes que vão passando nas salas, o último, sobre a Rede Social, tem uma mensagem especial, as Boas Festas que deixa adiantadas, como se soubesse que tinha pressa.
Era uma figura! Quantos darão pelo espaço vazio que agora deixa? Quantos lhe terão saudades? O Senhor do Adeus era uma estátua viva, como há poucas, plantado, não numa rotunda mas num passeio, incansável a acenar a quem passava, como se o braço fosse movido a outra energia que não a sua, humana, simples, simpática.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário