sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Acromotriquia

A acromotriquia é a característica do envelhecimento que branqueia o cabelo. O meu pai estava acromotriquico (!) quando foi para a tropa e hoje, com 67 anos, não tem um único cabelo castanho o que lhe dá um enorme contraste com a minha mãe, da mesma idade, mas louraça e com ar de ter 50 anos acabados de fazer. É claro que também ajuda a forma como ela se veste e se penteia, sempre na crista da onda!
A minha irmã saiu ao pai e aos vinte anos já tinha cabelos brancos, tal como uma prima, a P., a quem o tom grisalho dá um ar de maturidade e calma, inexistentes no resto da família. Bem, o marido dela tem igualmente esse ar, e até ando a pensar seriamente em deixar de ser prima dela e passar a ser prima dele, uma vez que ele descende de Carlos Magno e, com toda a certeza, será daí que lhe vem aquele toque de aristocracia, aquela serenidade que os nobres têm mesmo em situação de tragédia, ao contrário da nossa família, que se transfigura em família cigana com uma rapidez inacreditável. Eu já lhes disse, e volto a afirmar, quero ser prima dele!
Mas mesmo os descendentes de Carlos Magno também ficam grisalhos e agora tenho uma madeixa branca, que parece pintada propositadamente, para além de fios brancos que se misturam na minha cabeleira castanha.
Ora eu que já tive o cabelo pintado de todas as cores agora decidi-me a não mais o pintar pois estou a adorar ter cabelo branco.
Também estou convicta que o meu processo de acromotriquia se deve aos problemas da vida e não ao envelhecimento em si, pois o Duarte diz que ninguém me dá mais de 36 anos e se falarem comigo dão-me 20, no máximo! Ou seja, lá para os 80 terei ar dos meus actuais 44!
Porém, e isto preocupa-me imenso, apesar dos cabelos brancos não vejo aumentar o respeito pela minha grisalhez! Tratam-me da mesma maneira e isto é injusto, tanto mais que, desde há dois, talvez três dias, sou descendente de Carlos Magno, Xarlemanhe, em francês! Ora, não tarda nada vai aparecer alguém a pedir um favorzinho, que jeitinho, enfim, uma cunha e aí, aí vão ver como elas mordem porque eu não intercederei! (Note-se como uso o futuro do presente simples, característica da antiga nobreza francesa e não uma simples conjugação plebeia, tipo eu vou interceder!) Não há dúvida, eu mereço ser descendente de Carlos Magno!

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