quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O táxista

Depois de um jantar onde comemorámos uma vitória profissional, apanhei um táxi com três colegas. Entrámos na Avenida da Liberdade e o taxista antes de ouvir o destino deu quatro gritos feito louco. Imediatamente a seguir sorriu-nos e disse que era um por cada golo. Ora eu nem sabia de que jogo, de modo que fiquei atónita com aquela recepção. Uma das minhas colegas tinha bebido um bocadinho demais e desatrelou a língua que lhe rodava na boca ao sabor da inspiração do álcool ingerido o que provocou enormes gargalhadas. Deixei-as ainda em Lisboa e fiz o resto do percurso a ouvir histórias que raiavam a pornografia sobre clientela da noite no palco do banco traseiro do táxi. Aquele onde eu sentava o meu rabinho. Pedi ao taxista que baixasse o volume do rádio alegando estar com uma dor de cabeça enorme, quando o que queria era dar-lhe a entender que se calasse. O que é que eu fui dizer? Então não se vê logo que aquilo não é rádio? O homem carrega num botão da aparelhagem e saca duma cassete áudio com ar de ter andado na mão de algum faraó e esclarece aqui a tontinha que aquilo era Pink Floyd! Abanava a cassete com uma mão ligada ao braço que se estendia para as traseiras do carro de tal forma que temi pela nossa segurança. Não percebia se ele queria que eu lhe pegasse e verificasse à força de dedos que aquilo era Pink Floyd!
- Tem razão, tem razão, mas sabe, é que a dor de cabeça é tanta que eu já nem vejo nem ouço… - dizia eu com os sentidos mais alerta que nunca e arrependendo-me imediatamente de me ter colocado num situação de aparente fragilidade perante aquele demónio.
E entre descrições de meretrizes de várias nacionalidades, noitadas regurgitantes, ordinários que ousaram negar o pagamento pela corrida de táxi (ou melhor, de táx, para ser precisa com a pronunciação do condutor), lembranças de noites geladas piores que as do pico do Inverno na Sibéria, fomos comendo quilómetros em direcção ao meu carro, cujo avistamento já me tardava.
Chegados ao local insiste o homem em dar-me o telefone para que lhe ligue em caso de necessidade. Já só estava à espera que me pedisse o meu. Paguei com generosa gorjeta e desejei boas noites enquanto abria a porta para fugir dali, quando o ouço dizer que me acompanhará até ao carro! Esgrimi dois ou três não é preciso mas não valeu de nada. Antes que eu tirasse o saco que levava já ele estava a segurar-me a porta como se eu fosse a Cinderela!
Nesta fase debitava assunto sobre o filho, rapaz de 18 anos com queda para mulherengo, característica que herdara do pai, que assim o afirmava orgulhoso. Enquanto isto, eu metia a mão na mala em demanda pela chave do carro que apareceu nas primeiras apalpadelas no meio da confusão geral que parece uma secção de perdidos e achados.
Entre mais um ou dois obrigados ríspidos e enfastiados meti-me no carro com poucas cerimónias e tranquei as portas enquanto o homem me acenava.

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