Por favor, alguém aplaque a ira dos deuses e me liberte!
Quantos mais dias, ainda, com o coração a bater a este ritmo,
Com o coração a querer sair do seu sítio,
Com o coração a estar tão quente que procura o frio, às vezes da morte…
Como é possível alguém entrar neste Inferno onde estou sem o perceber?
Onde estão os portões cheios de ferrugem?
Onde está o ranger do batente?
Não vi nada disto.
De repente, abri os olhos e estava cá dentro.
Quem vai descer ao inferno para me vir buscar? Ninguém.
Quero fugir, quero sair daqui, quero deixar-me algures,
Quero prescindir de uma parte de mim.
Dizem que amar é morrer um pouco
É claro que é, ou melhor não é
É morrer de vontade, é vontade de tudo e de nada,
É nada fazer, é fazer tudo
É tudo esquecer, é esquecer o ser,
É ser capaz, é a capacidade máxima,
Maior do que correr sob a seara ao Sol, com a boca ressequida e cair à sombra de uma árvore.
Caiu um relâmpago à minha frente, na vida.
Deixou uma escarpa, um abismo, um buraco.
Não sei se salte por cima dele e continue,
Se fique parada
À espera que uma rabanada de vento,
Ou me empurre para o fundo ou me faça saltar por ele,
Ou se me deite e devagar, muito devagar, me deixe envolver
Pela aura de mistério que o desconhecido sempre dá,
Sempre oferece, como compensação por o estarmos a abraçar.
Deixem-me todos, completamente só
Não, não me deixem, o que vou fazer sozinha?
Nunca estive sozinha antes.
Mas deixem-me gritar, esgrimir a minha contenda comigo mesma.
Alguém me ajude, não me deixem transformar num farrapo maior
A música parece ser o único bálsamo
Entra por todos os poros e pelos ouvidos também
Tenho vontade de dançar e danço comigo dentro da minha cabeça
Mas canso-me e desisto
Dançar sozinha não tem graça
Por favor, alguém aplaque a ira dos deuses e me liberte…
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