Na biblioteca andamos numa fase profícua de aquisição de livros estrangeiros. As encomendas sucedem-se e chegam todos os dias. Alguns deles já usados, e foi esta característica que me proporcionou a surpresa total. Mas totalmente total.
Uma das funcionárias entrou trazendo numa mão um envelope castanho e na outra um livro, pedindo desculpa por ter aberto a correspondência. Agarrei o livro como quem dá a mão a alguém, como sempre faço. Olhei a lombada com olhar meramente informativo, para saber o que era e, imediatamente a seguir, devolvê-lo para que seguisse os trâmites do costume: catalogação, indexação, classificação, cotagem, entrega a quem o tinha encomendado.
Mas imediatamente a seguir não aconteceu nada disto porque fiquei logo aturdida com o título: ‘The letters of T. E. Lawrence’.
Quem, mas quem, meu Deus, teria encomendado aquilo? Quem? A rapariga olhava-me com ar espantado e voltou a pedir desculpa por ter aberto o envelope, uma vez que vinha dirigido a mim, a mim pessoa e não a mim bibliotecária.
Fui percorrida por um arrepio que o remetente não sentirá nem quando as temperaturas do norte da Europa, lá por onde ele anda, atingirem mínimos históricos.
O livro era para mim, para mim pessoa.
Pedi para ficar sozinha, como sozinhos ficamos em momentos que são única e exclusivamente nossos, que têm pessoas certas para serem partilhados e as pessoas certas não estavam aqui, de modo que era prioritário ficar só.
Folheado o livro revelaram-se dois postais: outra onda de prazer.
Um mostrava um farol... – e qualquer comentário seria seguido dum mar de lágrimas – e o outro uma cascata fabulosa, quase surreal. Os postais anunciavam a intenção de procurar a primeira edição deste livro e de, igualmente, ma oferecer e traziam uma cascata de beijos.
Perceberá bem o remetente o que senti ao ter este livro na mão...? Vou tentar racionalizar:
1º - O autor, meu eterno companheiro, de dia e de noite, de Verão e Inverno, na perseverança e na fixação de objectivos
2º - O texto: haverá coisa mais íntima do que uma carta?
3º - Escrito na língua que Lawrence falava e não uma tradução.
4º - Escrito em diversos locais geograficamente muito separados
5º - Em edição de 1938, Londres
6º - Enviado do Norte da Alemanha, de Kiel
7º - Comprado sabe Deus onde
8º - Oferecido pelo V.
Desculpem todos... isto é imprestável, ou seja, não se empresta...
Para algo assim, less is more e só há uma coisa a dizer: Obrigada V.
quarta-feira, 24 de março de 2010
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quanto ao art 7º não é preciso que só Deus saiba: http://www.biblio.com/bookstore/classica-antikvariat~666b
ResponderEliminartodos podem visitar on-line, mas o bom mesmo é passar por lá... passar os dedos pelas lombadas, o prato principal da casa, as viagens polares.
Ainda bem que gostaste. Beijos.