segunda-feira, 15 de março de 2010

Para um desconhecido...

Não me mostres o que quero descobrir sozinha

Não me ajudes a procurar
Tacteio, devagar, como cega, com os olhos bem abertos
Gasto palavras sem sentido na busca de um leito feito de rosmaninho
Um leito de um rio que corre e onde eu navego,
Ladeada por tufos que antecipam a leveza do toque, o veludo da carícia
Quero ficar e olhar
Absorver o imenso glaciar que espera uma oportunidade para se derreter
Apesar do calor, teima na altivez da dureza
O branco do gelo, transformado em vermelho de desejo
A mentira flui e é verdade
A distância passa ao largo
O movimento existe mas vai para outro lugar
A espera é fabulosamente mantida sem que as partes a quebrem
Como uma cerimónia cujo êxtase consiste nos momentos que a antecedem
A espera é o ritual mais precioso
Não, não abras a caixa de Pandora
Basta-nos saber o que contém
Não precisamos de ver, acreditamos mesmo que seja mentira.
O barulho da respiração antecede o que não vai acontecer
Sabemos que a Lua está ao alcance da mão, aquecida pelo Sol
Com os seus cheiros e os seus sons mudos
Como a melhor das sinfonias
E nos faz esperar…
Aquilo que não aconteceu prolonga-se, antevê-se, arrepia-nos
Faz ebulir a fúria da chegada ao instante que demoniacamente esperamos e afastamos.
O mais conscientes possível.

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