Na sexta feira recebi em casa um cheque da Segurança Social a pagar-me uma parte dos dias que faltei por acompanhamento à família em situação de doença. Pensei que não receberia nada, de modo que foi um bónus.
Sábado de manhã levantei-me mais depressa que o costume e fui gastar o cheque... numa livraria.
Ai, que bom gastar dinheiro bem gasto, que bom entrarmos e não termos que escolher um título só, que bom dizer imediatamente sim ao meu filho sem olhar para o preço, quando ele próprio escolhe um livro, que bom carregar aqueles sacos, sentir-lhes o peso e antecipar a leitura.
E foi assim que, finalmente, aderi à Bolañomania, embora ainda não tenha passado do primeiro capítulo de 2666. E porquê? Porque comprei também, e também finalmente, o Jerusalém e, tendo começado o 2666 nos minutos que antecedem a sessão de cinema que fui ver, e tendo continuado no intervalo, cheguei a casa e, como quem tem fome e sede e bebe com a boca bem cheia de pão, decidi começar também o Jerusalém.
Mais ainda, a minha gula faz-me pensar no quarto livro que comprei, para o meu filho oferecer ao Pai como lembrança do Dia do Pai - outro Bolaño – que enviei com uma importante mensagem: Depois de ter sido lido é favor emprestar este livro... a mim!
E assim passei o Domingo, entre aqueles que me eram estranhos e agora já não são.
Porém, por causa de alguns maus hábitos, sou forçada a interromper a leitura, sou obrigada a atirar a esperança dumas páginas para o regresso a casa, no comboio e para a hora do deitar, quando os lençóis brancos de florzinhas coloridas me acolherem e me deixarem mergulhar noutras dimensões.
Maus hábitos estes de se ir trabalhar que nos roubam tempo e impedem o normal funcionamento das coisas. Sou diariamente assolada por um pensamento que, hoje em particular, tento afastar, pese embora o expresse aqui: sinto-me sempre em falta com a leitura; de tanta coisa que há para ler, eu apanho apenas uma migalha minúscula e esfarrapada e sinto-me pobre.
Drucker diz que devemos fazer aquilo em que somos bons e esquecermos o resto: eu sou uma boa leitora, mas preciso do resto.
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e que dizer eu que desde que deixei os transportes públicos demoro meses a ler um livro. sinto sempre que estou em falta e depois aquele aperto cá dentro que ninguém entende. parece que estou a cometer um crime. e como é o jerusalém? estranho sempre quando um autor escreve livros uns atrás dos outros, beijinhos
ResponderEliminarO Jerusalém é interior: um jardim interior. Com os maus tratos da interioridade, com a riqueza do que está escondido, com a exposição daquilo que somos e nunca confessamos. Estou a gostar bastante.
ResponderEliminarComo eu percebo esse 'crime'... olho os livros não lidos e sinto-me pecadora...