A Dona Maria Augusta tem 89 anos, é cega do olho esquerdo, usa uns óculos enormes, um lenço colorido tapa-lhe a cabeça e adormece meio desapertado por baixo do pescoço, as saias afagam-lhe os artelhos enquanto entra no metro com destino à Baixa onde trabalhou a vida inteira como vendedora de jornais.
Entra na Pontinha e eu dou-lhe o lugar com um objectivo altamente egoísta: o de ir a conversar com ela o resto do percurso.
O passeio subterrâneo hoje passou-se com a descrição de como punha os braços para carregar os jornais que vendia pela rua enquanto gritava Olhó Século, Olhó Notícias.
Do problema de vista que transporta tem sempre os olhos muito vermelhos, mas quem chora sou eu.
Apetece-me beijar-lhe as rugas, muitas, como se cada beijo e afago me levassem no tempo para épocas que não vivi e que ela partilha comigo; imagino-a jovem e viçosa, marota, irresistível. Se aos 89 tem aquela cabeça, aquela força, aquele brilho no olhar, aquele sorriso, eu teria adorado tê-la conhecido e ser sua amiga.
Nos dias de hoje não temos uma amizade, não se lhe pode chamar isso, ela tem gratidão pela pessoa que lhe dá sempre o lugar no metro. Já aconteceu eu ir a ler e não a ver entrar e ela seguir em pé pois não há quem se levante para dar o lugar à História.
Eu por ela sinto um respeito enorme, um carinho do mesmo tamanho, uma grande admiração e alguma inveja. Algo me diz que não chegarei onde ela está.
Vida longa à Dona Maria Augusta.
Entra na Pontinha e eu dou-lhe o lugar com um objectivo altamente egoísta: o de ir a conversar com ela o resto do percurso.
O passeio subterrâneo hoje passou-se com a descrição de como punha os braços para carregar os jornais que vendia pela rua enquanto gritava Olhó Século, Olhó Notícias.
Do problema de vista que transporta tem sempre os olhos muito vermelhos, mas quem chora sou eu.
Apetece-me beijar-lhe as rugas, muitas, como se cada beijo e afago me levassem no tempo para épocas que não vivi e que ela partilha comigo; imagino-a jovem e viçosa, marota, irresistível. Se aos 89 tem aquela cabeça, aquela força, aquele brilho no olhar, aquele sorriso, eu teria adorado tê-la conhecido e ser sua amiga.
Nos dias de hoje não temos uma amizade, não se lhe pode chamar isso, ela tem gratidão pela pessoa que lhe dá sempre o lugar no metro. Já aconteceu eu ir a ler e não a ver entrar e ela seguir em pé pois não há quem se levante para dar o lugar à História.
Eu por ela sinto um respeito enorme, um carinho do mesmo tamanho, uma grande admiração e alguma inveja. Algo me diz que não chegarei onde ela está.
Vida longa à Dona Maria Augusta.
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