Ontem vi o mais violento programa de televisão a que já assisti. Três adolescentes grávidas são acompanhadas por uma instituição que as acolhe durante a gravidez, gravidez essa que termina em adopção.
Duas delas já eram mães e a terceira engravidara quando se prostituía para arranjar dinheiro para a droga.
As três mostravam características opostas, uma reservada, outra dando uma certa abertura e outra ainda cujo comportamento denotava uma falha, se não mesmo um abismo. Não prescindia de fumar e de beber tequila, era cleptomaníaca e arranjava problemas com a polícia.
A passos mais ou menos largos decorrem nove meses com visitas ao médico, rotinas diárias, jantares e compras (e roubos). De permeio a instituição distribui às adolescentes perfis de casais que querem adoptar, perfis esses - dossiers com texto e fotografias - que elas analisam para escolherem quem vão ser os pais dos seus filhos. Assim, boas fotografias, pouco texto, mas conciso, e muita cor, são elementos decisivos num processo de adopção, onde a última palavra é dada pela mãe, num processo que me pareceu perverso.
Todo o percurso é uma montra de horrores.
Uma das miúdas grávidas, já mãe de uma criança com ano e meio, tinha de seu quatro malas: duas com pertences dela própria e duas com coisas da filha. O horror de ter que dar o filho ia crescendo ao longo das filmagens tendo sido a que demorou mais a assinar os papéis. No Estado em questão a documentação só pode ser assinada vinte e quatro horas depois do nascimento para que a mãe tenha a certeza (?) que quer seguir esse caminho.
A instituição marca encontros com casais ansiosos por serem pais que se deslocam dos quatro cantos dos Estados Unidos da América para conseguirem o seu bebé, bebé esse que tem mais hipóteses de lhe ser atribuído se a sua candidatura tiver agradado à grávida. Foram postos de lado casais com argumentos do tipo: vivem numa quinta; têm ar de agricultores; já têm filhos; não inspiram confiança; tem uma cara esquisita.
A montra de horrores mostrava também a ansiedade dos pais adoptantes, alguns dos quais já conheciam aquele percurso e nunca sabiam quando a grávida ia voltar atrás. Pode também acontecer o casal encontrar-se com a grávida, esta ir pensar e quando dá a resposta eles já optaram por outra criança, como quem escolhe outra universidade.
As grávidas são acompanhadas por um médico que lhes dá indicações apenas e só sobre a gravidez, não sobre a criança, pois sabe o seu destino, como se fossem conversas que ficam a meio, onde os cuidados têm fim e não são para sempre.
Os partos são filmados e na sala de partos está a mãe, o médico, um elemento da entidade acolhedora, os futuros pais (que podem não chegar a ser e cujas vinte e quatro horas seguintes são traumatizantes e inesquecíveis) e a equipa de filmagem.
Ao ritmo dos gritos e dos gemidos da parturiente a eventual futura mãe aperta a mão do eventual futuro pai e choram ambos.
Em paralelo com esta dinâmica dos infernos há um processo administrativo que contempla três vertentes possíveis: adopção aberta, fechada ou semi-aberta. A adopção aberta é aquela onde a mãe verdadeira continua a fazer parte da vida do filho, vê-o periodicamente, o casal adoptante compromete-se a dizer mais tarde à criança que a mãe foi muito corajosa e a falar sempre bem dela. A semi-berta prevê o envio de fotografias nos aniversários, Natal e momentos especiais e a fechada supõe um afastamento para sempre.
Uma das adolescentes exigiu que a criança nunca soubesse que era adoptada o que chocou os futuros pais que, não obstante, concordaram.
Em conclusão, vi todos aqueles dramas, verdadeiramente chocantes, e questionei-me sobre a polémica da adopção de crianças por casais homossexuais que, dizem alguns, são prejudiciais ao crescimento e boa formação das crianças e jovens. Face ao que vi, pergunto, serão? Confesso que não me parece.
A tristeza das crianças que ali deram à luz outras crianças, que acredito ser verdadeira e profunda, esconderia muita coisa que não foi transmitida, não digo que sejam más mães, não julgo - embora considere o processo em si um coisa arrepiante e não lhes veja capacidade de decisão, mas é só uma opinião. As crianças criadas em regimes abertos ou semi-abertos terão um crescimento e uma formação saudável? Afinal, quais destes são os meus pais, porque fui dado, serei um objecto, serei um cão ou um gato?
Concordo a duzentos por cento que a adopção é um caminho para muitas pessoas e, não tivesse encontrado oposição no meu marido, na altura teríamos adoptado uma criança, já depois do nosso filho nascer. A mesma percentagem vai para todas as mães que, não tendo condições ou não querem os filhos, recorrem à adopção, mas as crianças devem ser entregues a quem as queira, para lá da opção sexual.
Quando uma das miúdas dizia que um casal tinha ar de campónio e por isso não os queria para pais da sua filha, podia estar a dizer que o casal tinha ar de gay. Havendo alguém que quer amar uma criança devemos impedi-la? Havendo alguém que quer assumir uma parte da responsabilidade do património universal que são as crianças devemos proibi-lo?
Duas delas já eram mães e a terceira engravidara quando se prostituía para arranjar dinheiro para a droga.
As três mostravam características opostas, uma reservada, outra dando uma certa abertura e outra ainda cujo comportamento denotava uma falha, se não mesmo um abismo. Não prescindia de fumar e de beber tequila, era cleptomaníaca e arranjava problemas com a polícia.
A passos mais ou menos largos decorrem nove meses com visitas ao médico, rotinas diárias, jantares e compras (e roubos). De permeio a instituição distribui às adolescentes perfis de casais que querem adoptar, perfis esses - dossiers com texto e fotografias - que elas analisam para escolherem quem vão ser os pais dos seus filhos. Assim, boas fotografias, pouco texto, mas conciso, e muita cor, são elementos decisivos num processo de adopção, onde a última palavra é dada pela mãe, num processo que me pareceu perverso.
Todo o percurso é uma montra de horrores.
Uma das miúdas grávidas, já mãe de uma criança com ano e meio, tinha de seu quatro malas: duas com pertences dela própria e duas com coisas da filha. O horror de ter que dar o filho ia crescendo ao longo das filmagens tendo sido a que demorou mais a assinar os papéis. No Estado em questão a documentação só pode ser assinada vinte e quatro horas depois do nascimento para que a mãe tenha a certeza (?) que quer seguir esse caminho.
A instituição marca encontros com casais ansiosos por serem pais que se deslocam dos quatro cantos dos Estados Unidos da América para conseguirem o seu bebé, bebé esse que tem mais hipóteses de lhe ser atribuído se a sua candidatura tiver agradado à grávida. Foram postos de lado casais com argumentos do tipo: vivem numa quinta; têm ar de agricultores; já têm filhos; não inspiram confiança; tem uma cara esquisita.
A montra de horrores mostrava também a ansiedade dos pais adoptantes, alguns dos quais já conheciam aquele percurso e nunca sabiam quando a grávida ia voltar atrás. Pode também acontecer o casal encontrar-se com a grávida, esta ir pensar e quando dá a resposta eles já optaram por outra criança, como quem escolhe outra universidade.
As grávidas são acompanhadas por um médico que lhes dá indicações apenas e só sobre a gravidez, não sobre a criança, pois sabe o seu destino, como se fossem conversas que ficam a meio, onde os cuidados têm fim e não são para sempre.
Os partos são filmados e na sala de partos está a mãe, o médico, um elemento da entidade acolhedora, os futuros pais (que podem não chegar a ser e cujas vinte e quatro horas seguintes são traumatizantes e inesquecíveis) e a equipa de filmagem.
Ao ritmo dos gritos e dos gemidos da parturiente a eventual futura mãe aperta a mão do eventual futuro pai e choram ambos.
Em paralelo com esta dinâmica dos infernos há um processo administrativo que contempla três vertentes possíveis: adopção aberta, fechada ou semi-aberta. A adopção aberta é aquela onde a mãe verdadeira continua a fazer parte da vida do filho, vê-o periodicamente, o casal adoptante compromete-se a dizer mais tarde à criança que a mãe foi muito corajosa e a falar sempre bem dela. A semi-berta prevê o envio de fotografias nos aniversários, Natal e momentos especiais e a fechada supõe um afastamento para sempre.
Uma das adolescentes exigiu que a criança nunca soubesse que era adoptada o que chocou os futuros pais que, não obstante, concordaram.
Em conclusão, vi todos aqueles dramas, verdadeiramente chocantes, e questionei-me sobre a polémica da adopção de crianças por casais homossexuais que, dizem alguns, são prejudiciais ao crescimento e boa formação das crianças e jovens. Face ao que vi, pergunto, serão? Confesso que não me parece.
A tristeza das crianças que ali deram à luz outras crianças, que acredito ser verdadeira e profunda, esconderia muita coisa que não foi transmitida, não digo que sejam más mães, não julgo - embora considere o processo em si um coisa arrepiante e não lhes veja capacidade de decisão, mas é só uma opinião. As crianças criadas em regimes abertos ou semi-abertos terão um crescimento e uma formação saudável? Afinal, quais destes são os meus pais, porque fui dado, serei um objecto, serei um cão ou um gato?
Concordo a duzentos por cento que a adopção é um caminho para muitas pessoas e, não tivesse encontrado oposição no meu marido, na altura teríamos adoptado uma criança, já depois do nosso filho nascer. A mesma percentagem vai para todas as mães que, não tendo condições ou não querem os filhos, recorrem à adopção, mas as crianças devem ser entregues a quem as queira, para lá da opção sexual.
Quando uma das miúdas dizia que um casal tinha ar de campónio e por isso não os queria para pais da sua filha, podia estar a dizer que o casal tinha ar de gay. Havendo alguém que quer amar uma criança devemos impedi-la? Havendo alguém que quer assumir uma parte da responsabilidade do património universal que são as crianças devemos proibi-lo?
Eu sou completamente a favor da adoção por casais homossexuais. Além destes dramas que descreveu, quantas crianças não são maltratadas e abusadas em famílias "normais"? E depois vejo deputadas a chorar no parlamento! Deixemo-nos de hipocrisias!
ResponderEliminarFamiliares meus adotaram uma bebé, já há quase vinte anos. Mas eu arrepiei-me, quando me contaram a história que está por trás: a mãe biológica tinha apenas 15 anos, quando engravidou, e o pai dela, avô da criança, obrigou-a a dar o bebé para adoção, logo a seguir ao parto! Continuou a aceitar a filha em sua casa, durante e depois da gravidez, apenas nessa condição!
Há situações tão diabólicas que nos custam a acreditar :(
ResponderEliminarA adopção devia ser livre e não condicionada.