terça-feira, 18 de junho de 2013

Respirar fundo...

A semana passada foi gloriosa. Aceitei um convite para uns dias de molho na Ericeira, o sol brindou-nos sempre com a sua presença, a água estava magnífica, o vento também tinha ido de fim-de-semana prolongado de modo que estava ausente, tudo jóia.
A amiga que me convidou aproveitou a estadia para resolver uma série de coisas, uma vez que lá não era feriado. Teve até que resolver o que não era suposto pois chegámos na quarta-feira à noite e não havia água.
Seria geral? O pagamento é feito por transferência por isso atraso não era. A vizinha do lado não estava para se confirmar se também fora lesada e a perspectiva do fim de semana levou-nos a pensar que era com certeza algum problema momentâneo. A minha anfitriã ainda ligou aos serviços das águas mas atendeu um gravador a dizer que estavam fechados.
O momento arrastou-se até à manhã seguinte e o banho matinal foi tomado no mar. Por mim, cinco estrelas. Ao fim do dia a água continuava desaparecida e a vizinha também. Por mero acaso, estendendo as toalhas de praia à janela as meninas sem cabelo à lua que ainda era cedo, viram a vizinha passar na rua e ficámos a saber que já ali não morava, saíra na semana passada, altura em que mandara cortar a água. Mandara cortar a água? Olhámos uma para a outra e fez-se luz... ligámos de novo para a companhia e lá perceberam que tinham cortado a água errada!
Por seu lado, a contagem da luz foi feita por mero acaso pois os técnicos chegaram bem mais cedo que o acordado e só por coincidência nos apanharam em casa. Já a entrega da box nova da televisão foi feita com um ligeiríssimo atraso: estava marcada das nove à uma da tarde e entregaram-na faltavam cinco minutos para as sete, não obstante, logo de amanhecida, ela ter recebido uma mensagem no telefone a informar que a encomenda ia a caminho. Valeu ela ter telefonado para o distribuidor, não para o operador, e ter pedido que lhe ligassem uns minutos antes de chegarem, e assim estivemos na praia o dia inteiro.
Tendo em conta que ambas somos certificadas e acreditadas, verdadeiras experts, altamente competentes e experientes na arte de instalar seja o que for, perguntei ao senhor que entregou a box se não nos podia dar uma ajudinha. Não podia porque não percebia nada do assunto, mas achava que era muito fácil, ouvira dizer.
Lá respirámos fundo e abrimos a caixa de cartão de onde saltaram fios como se aquilo fosse um chapéu de um mágico. Se uns foram enfiados por percepção imediata, outros não tinham lugar. O livro de instruções ajudou num caso, não ajudou noutros e não tivemos outro remédio se não ligar e pedir ajuda ao call center.
Começámos por desistir, o que não é bom princípio como toda a gente sabe, pois o telefone usado tem teclas de touchscreen e não as achámos...
Trocámos de telefone e lá fomos seguindo as instruções, se quer isto marque o número tal, se quer aquilo carregue na tecla tal mas, na verdade, nenhuma das opções era a pretendida. Optámos por não carregar em nada a ver se alguma luz se acendia sabe-se lá onde e alguém caridoso quisesse atender a nossa chamada. Finalmente lá veio a alminha. Ela começou por dizer que a mudança da caixinha fora imposição do operador, e não pedido dela, mencionou o atraso da entrega e pediu ajuda para instalar aquilo.
Sentia-me como se tivesse um animal raro e perigoso nas mãos e à distância alguém me desse instruções sobre como o enjaular!
Mete fios, tira fios, substitui fios, afinal havia fios que não serviam para nada, e o fio de Ariadne a enlear-se nas nossas pernas.
Às tantas lá se acenderam uma luzes, na televisão apareceu uma imagem que teimava em andar de carrossel, às voltas e voltas, sem que a conseguíssemos parar. O telefone passava da mão dela para a minha e da minha para ela, como se jogássemos ténis ou pingue-pongue.
Quando nos deixavam à espera - Senhora Dona Fulana de Tal peço-lhe agora que aguarde um momento em linha por favor - nós ríamos perdidamente, cabelos eriçados do sal da água do mar, e ficávamos a olhar o ecrã como se o poder da visão lhe devolvesse a imagem fixa ou em movimento mas em velocidade normal e não naqueles preparos que, garantidamente, violavam todos os limites de velocidade.
Bom, a coisa lá ficou feita e reposta a normalidade ela perguntou o que devia fazer com a antiga box. Pois, isso não era naquela secção, espere um pouco que vou saber. Não voltou de saber, mas mandou uma colega que quis saber que box era e porque razão a queria devolver. Em três palavras a minha amiga explicou que tinha instalado uma nova. Ai sim? E porquê? O que aconteceu com a antiga?
Olhar de raiva cá deste lado, tudo parecia começar, tanta pergunta, quando a troca foi imposição deles! A voz teve que ganhar um tom mais áspero e lembrar que estávamos ao telefone há séculos e que a dita ligação devia ser feita por eles, a quem se paga todos os meses. Mais ainda, de certeza absoluta que os clientes velhinhos não têm a destreza de perceber tanto pormenor, de encaixar cabinhos tão finos que a mim tanto me custaram devido ao tamanho dos dedos e os meus não são dos maiores, de estarem atentos para não deixar aquilo tudo desligar-se, como me aconteceu que metia um cabo e saia outro, enfim, devia haver um maior acompanhamento ao cliente. Que sim senhor, que com certeza, mas a culpa não era dela.
Não deixa de ser curioso verificar que a culpa nunca é de alguém, o que me leva a pensar que cada uma das pessoas que assim responde não se identifica minimamente com a empresa onde trabalha, caso contrário, para o bem e para o mal, assumiria o óbvio: sim, tem razão, as coisas não deviam ser feitas desta forma. Mas não, esta resposta existe no campo da ilusão, não na vida real, o que é uma chatice pois a mim dá-me vontade de implicar com quem assim responde, dá-me ganas que as pessoas não façam o exercício de se colocar no lugar dos outros, parece-me impossível que não pensem que também eles são clientes e que dar a mão à palmatória pode ser beneficiador para acalmar clientes que estão há horas ao telefone, a pagar - só é gratuito se for de um número fixo, que nós não tínhamos - por imposição de outrem, não por necessidade nossa. Haja paciência.

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